Pompeo tenta recuperar espaço perdido no Caribe e na América Latina

Por Rafael R. Ioris*

Ao longo da semana passada, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, visitou três países latino-americanos, em uma verdadeira cruzada para estreitar laços com países alinhados da região. As visitas relâmpago à Costa Rica, Colômbia e Jamaica foram, de fato, organizadas para garantir que tais países, entre outros, mantenham seu alinhamento com os EUA em temas considerados cruciais. Entre eles, o combate ao terrorismo, a oposição aos países não-alinhados na região – em especial a Venezuela, mas também o que consideram como a “Troica da Tirania” e que inclui Nicarágua e Cuba – e o enfrentamento à crescente influência chinesa na região, sobretudo no Caribe.

Em Bogotá, Pompeo participou da Terceira Conferência Ministerial do Combate ao Terrorismo no Hemisfério Ocidental. Além dos tradicionais pronunciamentos contra o Irã e seus aliados, como o Hezbollah, Pompeo garantiu apoio ao presidente colombiano, Eduardo Duque, em sua campanha contra o governo da Venezuela. O secretário americano demonstrou preocupação com o fato de que, supostamente, muitos dos exilados venezuelanos atualmente na Colômbia estariam se juntado ao Exército de Libertação Nacional (ELN) em suas atividades contra o governo colombiano. Pompeo também se reuniu com o líder oposicionista venezuelano, Juan Guaidó, a quem prometeu apoio continuado em sua campanha contra o governo Nicolás Maduro, visto por ele como a maior ameaça atual na região.

Na Costa Rica, Pompeo agradeceu ao presidente Carlos Alvarado por sua condenação reiterada dos “abusos” dos governos Maduro e de Daniel Ortega (Nicarágua), assim como fez uma forte admoestação ao crescente alinhamento econômico do país com a China. Tais críticas se estenderam também nos pronunciamentos de Pompeo em Kingston, capital da Jamaica, última parada de sua viagem. Lá, o secretário de Estado de Trump advertiu os países caribenhos a não se “encantarem” tão facilmente com o “dinheiro fácil” da China, lembrando-os das históricas relações destes países com os EUA – relações que prometeu melhorar e aprofundar.

Ainda que a preocupação de Pompeo com a crescente presença chinesa certamente não se limite ao Caribe, chama atenção o fato de que esse alto funcionário dos EUA tenha decidido concentrar sua campanha contra tais desenvolvimentos nessa parte do hemisfério. Ressalta-se que, efetivamente, a Costa Rica tem sido o único país centro-americano considerado estratégico pela China na região e que, talvez, os EUA estejam, finalmente, dando-se conta da perda de espaço econômico e associada influência diplomática nos territórios do que historicamente se chamou de “Lago Americano”.

Além da preocupação com a overture chinesa para com os países caribenhos, Pompeo também buscou garantir poder contar com o apoio e os votos de tais países no processo de releição do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, um forte aliado dos EUA na campanha contra Maduro.

Embora a América Latina não tenha recebido muita atenção da administração Trump, para além dos temas tradicionais da política doméstica – em especial, a continuada migração de indocumentados na fronteira sul do país –, a visita de Mike Pompeo à região, muito pontual e específica, demonstra claramente que pelo menos alguns dos integrantes principais do governo norte-americano estão se dando conta do risco de tomar como dado o alinhamento regional, mesmo de países tradicionalmente próximos.

Da mesma forma, a visita indica que tipo de ações os EUA continuaram a promover na América Latina, sobretudo, as de enfrentamento direto contra países críticos às ações dos EUA no mundo e na região. É de esperar que haja, portanto, uma retomada de ações mais fortes contra os governos da Venezuela, em especial, assim como contra Cuba e Nicarágua.

Ao fim de sua viagem regional, Pompeo participou de um comício com as diásporas venezuelana e nicaraguense na Flórida, lembrando que, nos EUA, todo tipo de política, inclusive política externa, sempre tem um forte caráter e dinâmicas locais.

 

* Rafael R. Ioris é professor da Universidade de Denver e membro do INCT-INEU.

** Recebido em 24 jan. 2020.

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