Política Doméstica

‘Where woke goes to die’: a Flórida de Ron DeSantis

Governador Ron DeSantis em evento em Phoenix, Arizona, em 14 ago. 2022 (Credit: Gage Skidmore/Flickr)

Por Editores do Latino Observatory* [Republicação]

No dia 17 de maio, o governador da Flórida, Ron DeSantis, assinou quatro leis que restringem os direitos da população LGBTQI+ no estado. Destacam-se nas novas legislações: limitação ao acesso a tratamento de saúde para pessoas transgênero; proibição da presença de menores de idade em shows drag; e restrições ao acesso de banheiros para pessoas trans.

Essas leis estão dentro de um contexto que está mudando a realidade da Flórida. Sob o governo de DeSantis, o estado está guinando cada vez mais para a direita conservadora, adotando legislações controversas sobre temáticas de diversidade e sexualidade. Ano passado, foi sancionado o projeto do governador conhecido por oponentes como “Don’t say gay”, trazendo diversas limitações à discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero nas escolas do estado, com duras penalidades previstas aos professores, caso a lei seja desrespeitada. Vale ressaltar que a Flórida vem liderando outros estados “conservadores” a aprovarem legislações que limitam os direitos da população LGBTQI+, em especial das pessoas transexuais.

Logo, cabe a pergunta: como isso ocorreu, e quais são as consequências das políticas de Ron DeSantis tanto para a Flórida como para os Estados Unidos?

Eleito pela primeira vez em 2018, Ron DeSantis é um dos mandatários mais polêmicos da história recente americana. Com uma carreira que mescla sucessos militares e políticos, foi uma das principais vozes da campanha de Trump e do movimento conservador, sinalizando mudanças que, por ora, estão em curso na Flórida. Quando tomou posse em 2019, ganhou atenção nacional durante a pandemia da covid-19, relativizando a ameaça do vírus e flexibilizando normas de distanciamento social. Posteriormente, sem embasamento, disse que essas medidas estariam por detrás da baixa taxa de mortalidade pelo vírus e da resistência da economia da Flórida, se comparado com outros estados. De acordo com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), as taxas de mortalidade na Flórida foram muitos superiores às dos estados liderados por democratas na costa Oeste e no Nordeste do país. Além disso, ele alegou fraudes nas eleições presidenciais de 2020, restringiu o acesso ao aborto, criou leis que censuram livros considerados “ideológicos”, proibiu o ensino da Teoria Racial Crítica e, recentemente, vem aprovando leis que limitam os direitos da população LGBTQI+.

Sob o lema de “Where woke goes to die”, DeSantis vem transformando a Flórida em um reduto de políticas conservadoras que, para outros estados do país, mostram-se muito radicais. Lugares como Colorado, Maryland, Michigan e Minnesota aprovaram legislações que protegem os direitos das pessoas transexuais, além de outros estados que garantem o direito ao aborto sem muitas restrições.

As políticas de DeSantis são polarizadoras. Divisão é a palavra que melhor descreve esse momento, que está atingindo grandes proporções e se tornando alvo de grandes batalhas judiciais, como a relação conturbada entre o governador e a Disney. No ano passado, a gigante do entretenimento criticou a lei que proibia o ensino de pautas sobre orientação sexual e identidade de gênero nas escolas, levando a uma batalha judicial que culminou no fim do controle da Disney sobre seu distrito especial em Orlando.

PBS News sobre a batalha entre Ron DeSantis e Disney

Muitos alegam que essas ações são feitas para atrair eleitores além da Flórida. Isso ocorre em razão de que o governador é cotado como um dos candidatos do partido à presidência, situando-se em segundo lugar, atrás do ex-presidente Donald Trump, nas pesquisas sobre as prévias do Partido Republicano. Vale pontuar que os dois vêm se atacando nos últimos meses, ao mesmo tempo em que DeSantis viaja o país propagandeando suas ações na Flórida. Para efeito de comparação, em pesquisas recentes, o governador geralmente alcança 30% das intenções de votos dos eleitores republicanos, sendo que pesquisas hipotéticas que o colocam como o candidato oficial do partido contra Joe Biden, mostram uma disputa apertada, com o governador inclusive liderando algumas delas.

Ou seja, a Flórida e os Estados Unidos mudaram após a eleição de DeSantis. Suas políticas conservadoras estão chamando a atenção dos eleitores republicanos do restante dos Estados Unidos, além de colocá-lo como figura central da política nacional. Ele foi reeleito em 2022 com uma porcentagem próxima de 60% dos votos, sinal de sua popularidade no estado, ao mesmo tempo que a Disney desiste de investimentos bilionários por causa dessa suposta “perseguição”, e a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), uma das principais organizações que lutam contra a discriminação nos Estados Unidos, classificou a Flórida como um ambiente “ativamente hostil” para minorias, em razão das recentes políticas que atingem diversos grupos. Logo, qual será o destino do governador e de suas políticas, visto que agora se tornou oficialmente candidato para a Casa Branca? Só o tempo dirá se os Estados Unidos se tornarão o país onde a “cultura woke” vai para morrer.

 

* Publicado originalmente no site Latino Observatory, em 11 jun. 2023. Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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