América Latina

O que esperar das relações Brasil-EUA-AL após as eleições? (II)

Crédito: Elkov Oleg/Dreamstime.com

Dossiê Relações Brasil-EUA

Por Roberto Moll Neto*

O resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, em 30 de outubro de 2022, pode impactar diretamente a relação do Brasil com o continente. Neste sentido, é possível traçar alguns cenários.

A reeleição de Jair Bolsonaro deve, provavelmente, afastar ainda mais o governo brasileiro dos governos de outros países do continente. Recentemente, os eleitores da região impuseram uma barreira de resistência ao avanço de projetos neoliberais-reacionários em curso e elegeram governos de centro esquerda, como é o caso de Colômbia e Chile, que se juntam a Argentina e Bolívia, conformando uma nova Onda Rosa, mais moderada e mais distante da Venezuela e Cuba. Mesmo nos Estados Unidos, os eleitores rejeitaram o projeto de Donald Trump e elegeram um governo liberal timidamente progressista, com o democrata Joe Biden. Vale frisar, entretanto, que, em todos os casos, as forças reacionárias continuam vivas e latentes.

Bolsonaro: relações bilaterais e afinidade ideológica

O governo Bolsonaro tem adotado a estratégia de atacar os governos da nova Onda Rosa e o governo Biden, inclusive disseminando notícias falsas com o intuito de reforçar um projeto neoliberal-reacionário, com base na criação de inimigos e de contraexemplos. Na prática, Bolsonaro representa um projeto que adotou a estratégia de aprofundar uma ruptura com os processos políticos e econômicos de integração e canais multilaterais, apostando as fichas nas relações bilaterais com parceiros com afinidades ideológicas.

O problema dessa estratégia de inserção política e econômica fica ainda mais acentuado em um cenário, como o atual, no qual o governo Biden não quer, ao menos no mundo da política de aparências, estar vinculado aos projetos reacionários, como o do governo Bolsonaro, e precisa construir pontes com países da América Latina, mesmo os mais à esquerda, para enfrentar o avanço econômico da China no Hemisfério e disputar o Leste Europeu com a Rússia. Isso ficou evidente recentemente, inclusive, com o ensaio de uma aproximação com o governo Nicolás Maduro, na Venezuela.

Ou seja, um novo governo Bolsonaro, caso mantenha a estratégia de inserção econômica e política no continente vai-se afastar ainda mais de parceiros importantes e vai perder a oportunidade de retomar uma política externa autônoma em condições muito favoráveis com os Estados Unidos.

Por fim, vale mencionar, os efeitos dessa estratégia sobre a economia real tendem a ser retardado em função do papel que a produção agrícola brasileira ocupa na cadeia de suprimentos, mas, em médio prazo, outros países podem ocupar a posição, enfraquecida pelas políticas de governo.

Lula: integração regional e multilateralismo

Uma vitória de Lula poderá trazer um cenário completamente diferente. Lula representa um projeto com estratégia de inserção econômica e política por meio de mecanismos de integração regional e do multilateralismo. Um possível governo Lula estaria afinado com a Onda Rosa que ressurgiu na América Latina. Mais ainda, Lula e o Partido dos Trabalhadores, possivelmente, estarão mais afinados com a nova Onda Rosa do que estiveram no passado recente, em função do próprio caráter moderado do projeto político econômico. Em função de seu capital simbólico e experiência, Lula poderá, até mesmo, assumir um papel de liderança.

Apesar de os governos do Partido do Trabalhadores terem tido um papel importante na articulação da inserção da China na América Latina, o governo Joe Biden, inclusive pelo passado recente na administração Barack Obama, já demonstrou que pode se afinar ao governo Lula. Isso, somado ao papel importante – ainda que dependente – que o Brasil tem da cadeia de suprimentos poderá estabelecer uma boa posição de interlocução entre os Estados Unidos e os países da América Latina, em um contexto delicado e sem perder a autonomia. Neste sentido, o Brasil poderia amortecer e equilibrar a presença dos EUA e da China na América Latina, reabrindo oportunidades econômicas interessantes.

 

* Roberto Moll Neto é professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos da UFF e pesquisador do INCT-INEU.

** Edição e revisão final: Tatiana Teixeira. Recebido em 3 out. 2022. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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