Ultraconservador Freedom Caucus quer Presidência da Câmara

por Tatiana Teixeira

Eles ainda não são muitos, mas estão em número suficiente para funcionar como fiel da balança em qualquer votação na Câmara de Representantes. Incomodam democratas e, sobretudo, seus correligionários republicanos. Depois do anúncio do presidente da Casa, o republicano Paul Ryan (R-WI), de que não tentará a reeleição nas midterms de 6 de novembro, a bancada de extrema direita House Freedom Caucus parece querer aproveitar o momentum para dar um salto. “Veja, não tem uma corrida para a Presidência, Paul Ryan é o presidente. Se e quanto tiver, tenho sido estimulado por meus colegas a considerá-la. Então, estou aberto a isso”, declarou o representante Jim Jordan (R-OH). “Mas, nos próximos seis meses, o foco deve ser manter a maioria”, desconversou.

À primeira vista, o alvo seria a Presidência da Câmara, mas, na verdade, trata-se muito mais de aumentar seu poder de negociação para barganhar presidências de comitês importantes, dar mais visibilidade à sua agenda ultraconservadora, acumular capital político e angariar novos adeptos, doadores e promessas da legenda e das lideranças da Casa. Para isso, mantém-se a estratégia de fincar uma posição até garantir o maior número possível de concessões da cúpula partidária. Nesse sentido, coesão tem sido a chave do sucesso deste grupo que costuma votar em bloco, que é bastante popular entre sua base eleitoral mais conservadora e que se aproveita das fissuras (ou rachaduras, a depender do tema) no ninho republicano.

McCarthy na briga

Em meio ao buzz e aos arranjos políticos, que já começaram, Paul Ryan oficializou seu apoio à candidatura do líder da maioria na Câmara, Kevin McCarthy (R-CA), no dia 13. Ryan garante que segue no cargo até o fim do mandato, em janeiro de 2019, mas a pressão é forte para que saia antes disso. Para se tornar presidente da Casa, McCarthy precisa dos votos da maioria dos membros (218 de 435, se todos estiverem presentes). É de olho nesse cálculo e nos benefícios que podem obter dele que Jordan e os demais ultraconservadores apostam.

Os embates de McCarthy com o Freedom Caucus vêm de longa data. Em 2014, na disputa como líder da maioria na Casa, derrotou o representante Raúl R. Labrador (R-ID), que então decidiu fundar o Freedom Caucus junto com outros congressistas. Nessa contenda, ele precisava apenas da maioria dos votos entre seus colegas de partido. Em 2015, McCarthy teve de desistir da candidatura à Presidência da Casa, porque não teria o apoio dessa bancada. Ele substituiria John Boehner (R-OH), que decidiu se aposentar, deixando o cargo após intensa e continuada pressão do grupo.

Demonstração de força

É improvável que Jim Jordan (R-OH) tenha fôlego e os votos necessários para levar a empreitada adiante. A bancada é vista pelos correligionários como um baixo clero problemático e um obstáculo, em vista de sua radicalização, e como conservadores puristas desprovidos do pragmatismo necessário para fazer a pauta legislativa seguir seu curso. Algum barulho eles podem fazer, porém, com seus pouco menos de 40 membros, nem todos autoidentificados como pertencendo à bancada linha-dura. “Temos três dúzias de membros, e isso é suficiente para causar um grande impacto”, afirmou o representante Justin Amash (R-MI).

Hoje, há 237 republicanos na Câmara, além de quatro cadeiras vagas por renúncias. Agora, uma das preocupações da cúpula do GOP é que uma perda de assentos em novembro reduza o número de moderados, ampliando o espaço dos radicais e rachando ainda mais o partido. Essa seria uma bomba-relógio que poderia explodir na próxima corrida presidencial, em 2020, a exemplo do que já acontece na Casa Branca de Donald Trump. Depois da lua de mel na campanha, o magnata nova-iorquino se tornou, aliás, um desafeto do grupo, que o acusa de ter sido dragado pelo establishment em Washington e de ceder aos moderados, em vez de “drenar o pântano”, conforme prometido na corrida eleitoral.

Pelo menos 43 republicanos anunciaram que não tentarão a reeleição. Destes, muitos são de distritos eleitorais onde a então candidata democrata à Presidência em 2016, a ex-senadora Hillary Clinton, venceu, ou em distritos nos quais o empresário de reality show ganhou por estreita margem.

Pedra no sapato

Muitos dos principais embates e derrotas governistas recentes entram na conta do Freedom Caucus mesmo antes de sua formação. Seus líderes estão na origem do shutdown de 2013, quase iniciando outras paralisações parciais do governo federal, ou ainda do fracasso na aprovação do Trumpcare (o American Health Care Act, que substituiria o polêmico Obamacare). “O Freedom Caucus vai ferir toda agenda republicana se não entrarem na equipe, & rápido. Precisamos lutar contra eles, & Dems, em 2018!”, tuitou Trump na época.

Seus mais proeminentes e ativos membros são Jordan (R-OH, primeiro presidente da bancada), seu atual presidente, Mark Meadows (R-NC), Labrador (R-ID), Mo Brooks (R-AL), Mark Sanford (R-SC) e Amash (R-MI). Segundo jornais americanos, entre outros da bancada estariam: Gary Palmer (R-AL); Andy Biggs, Paul Gosar e David Schweikert (todos do Arizona); Jeff Duncan (R-SC); Ted Budd (R-NC); Joe Barton, Randy Weber e Louie Gohmert (R-TX); Morgan Griffith, Tom Garrett e David Brat (da Virgínia); Matt Gaetz, Ron DeSantis e Ted Yoho (R-FL); Rod Blum (R-IA); Warren Davidson (R-OH); Scott DesJarlais (R-TN); Andy Harris (R-MD); Jody Hice (R-GA); Scott Perry (R-PA); Thomas Massie (R-KY); Jim Bridenstine (R-OK); Alex Mooney (R-WV); e Ken Buck (R-CO).

Freedom Caucus não é Tea Party

Nas suas fileiras estão os mais conservadores do GOP e alguns veteranos do movimento Tea Party, o qual também tumultuou as votações no Congresso ao longo do governo Barack Obama. Surgiu em janeiro de 2015, criado por nove representantes republicanos, quando um grupo de congressistas considerou que a bancada conservadora original na Casa, o Republican Study Committee, tinha perdido sua identidade. Teria crescido demais e deixado de lado sua essência e a agenda conservadoras. A ideia teria surgido em encontros entre o CEO do advocacy Heritage Action Michael Needham, seu diretor de operações Tim Chapman e o representante Jim Jordan. Hoje, eles seriam 36. Menos de 25% de seus membros (sendo apenas dois de seus fundadores) se identificam como parte do Tea Party Caucus. Não há mais mulheres nessa bancada, já que Cynthia Lummis (R-WY) se aposentou.

“O House Freedom Caucus dá voz a inúmeros americanos que sentem que Washington não os representa”, diz o grupo em sua página institucional no Facebook, acrescentando que “apoiamos um governo aberto, limitado e responsável, a Constituição e o Estado de Direito, e as políticas que promovem liberdade, segurança e prosperidade para todos os americanos”. A pauta desse grupo inclui, por exemplo, a redução dos gastos e a manutenção dos tetos orçamentários, mais restrições na política migratória e para refugiados, ou acabar com os recursos destinados à organização de planejamento familiar Planned Parenthood.

De acordo com relatório do Pew Research Center de 2015, os membros do Freedom Caucus têm menos tempo de casa do que os demais republicanos, com a maioria deles tendo sido eleita pela primeira vez em 2010. Também são um pouco mais jovens, com idade média de 54 anos, e boa parte dos 36 procede de estados do Sul e do Oeste. Entra-se no grupo apenas por convite de algum outro membro, e seus encontros não são públicos.

Eles se descrevem como “constitucionalistas de princípios” contrários ao establishment e que se recusam a serem “corrompidos” por Washington. Como narrativa que vai sendo construída está que republicanos e democratas são cada vez mais parecidos, que os conservadores não têm espaço no Congresso e que são marginalizados no debate.

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