Eleições

Mike Pence, de vice a adversário de Donald Trump

(Arquivo) O então president Donald Trump e seu vice, Mike Pence, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, D.C. em 25 nov. 2019 (Crédito: Casa Branca/Shealah Ctraighead/Wikimedia Commons)

Por Lucas Barbosa*

No dia 5 de junho, Mike Pence formalizou sua candidatura à nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos. A entrada de documentos na Comissão Federal Eleitoral foi seguida, dois dias depois, pelo lançamento da campanha em vídeo e por uma reunião com a imprensa na Universidade de Grand View, em Des Moines, Iowa.

Há alguns anos, a candidatura de Pence seria impensável. Tendo servido como vice-presidente durante todo o mandato de Donald Trump (2017-2020), Pence foi um aliado e defensor fiel do ex-presidente, mesmo durante os momentos de maior controvérsia – notadamente, o negacionismo do governo Trump durante a pandemia da covid-19.

A cisão ocorreu em janeiro de 2021. Nos Estados Unidos, o cargo de vice-presidente do governo federal coincide com a presidência do Senado. No dia 6 daquele mês, Pence liderava a sessão no Capitólio que anunciaria de forma oficial a derrota republicana para a chapa de Joe Biden e Kamala Harris. A cerimônia foi, no entanto, interrompida pela invasão de eleitores republicanos que, incitados por Trump, exigiam um golpe que impedisse a consolidação da vitória democrata.

Ao não colaborar com os golpistas, Pence se tornou alvo do estrato republicano fiel à figura de Trump. Durante a invasão do Capitólio, enquanto Pence era mantido em segurança, alguns dos golpistas clamaram por seu enforcamento. Desde então, o ex-vice tem se afastado de forma sutil do trumpismo, culminando, agora, em sua tentativa de ser o próximo candidato republicano vitorioso na corrida pela presidência.

Na busca pela nomeação do Partido Republicano, Mike Pence se junta a Donald Trump, que busca a reeleição; Asa Hutchinson, ex-governador do Arkansas; Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey; Doug Burgum, governador da Dakota do Norte; Larry Elder, radialista conservador; Nikki Haley, ex-embaixadora da ONU; Ron DeSantis, governador da Flórida; e Tim Scott, senador pela Carolina do Sul.

Pautas conservadoras

Michael Richard Pence nasceu em 7 de junho de 1959 em Columbus, Indiana. Sua família, dona de diversos postos de gasolina, era católica e de origem irlandesa. Durante a graduação em História na Hanover College, uma instituição afiliada à Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, Pence passou a se considerar um católico evangélico.

Diferentemente de Trump, antes de 2017, Mike Pence já tinha uma carreira política relativamente longa. Após se formar em Direito na Universidade de Indiana em 1986, candidatou-se ao Congresso, sem sucesso, em 1988 e 1990. Essas experiências iniciais foram marcadas por polêmicas envolvendo doações de campanha (que foram usadas para pagar despesas pessoais de Pence) e uma propaganda ofensiva à comunidade árabe.

Ao longo dos anos 1990, Pence ampliou sua imagem ao apresentar programas de rádio e TV, sendo finalmente eleito para o Congresso em 2001, onde ficou por 12 anos. Neste período, Pence se tornou conhecido por sua defesa de pautas conservadoras, associando-se ao movimento Tea Party e frequentemente descrevendo a si mesmo como um “cristão, conservador e republicano, nessa ordem”. Em seus mandatos, Pence se opôs, entre outros temas, ao casamento homoafetivo, ao direito ao aborto e à expansão de medicamentos fornecidos pelo Medicare.

Mike Pence | Vice President of the United States Mike Pence … | Flickr(Arquivo) O então vice-presidente americano, Mike Pence, discursa na Conservative Political Action Conference (CPAC), em National Harbor, Maryland, em 25 fev. 2018 (Crédito: Gage Skidmore)

Em 2013, Mike Pence assume o cargo de governador do estado de Indiana, após conquistar os votos de 49,5% do eleitorado. Sua campanha ao longo do ano anterior buscava, principalmente, promover a criação de empregos e a redução de impostos. Durante o mandato, o conservadorismo das políticas de Pence chamaram atenção mais uma vez, desta vez em nível nacional. Uma delas foi a sanção de uma lei que impedia o aborto em casos nos quais o feto tivesse uma deficiência.

Outra polêmica envolvia a Lei de Restauração da Liberdade Religiosa (Religious Freedom Restoration Act, RFRA), que, oficialmente, propunha assegurar o direito à prática religiosa. A RFRA permitia, no entanto, que estabelecimentos comerciais se recusassem a servir indivíduos da comunidade LBTQIA+ sob argumentos de cunho religioso. Esta lei em específico gerou uma crítica em massa que envolveu, além da sociedade civil, empresas e ligas esportivas. Isso resultou em uma revisão da RFRA que impedia que serviços fossem negados a clientes por causa de orientação sexual, raça, religião, ou deficiência.

Trump nomeou Pence como seu candidato a vice em julho de 2016, o que impossibilitou que ele concorresse à reeleição para governador de Indiana, como inicialmente planejado. A indicação de Pence pretendia ajudar Trump a alcançar o eleitorado mais conservador do Partido Republicano, assim como assessorá-lo com a experiência política de que Trump não dispunha.

Na nova fase que busca derrotar o antigo aliado pela nomeação republicana, resta-nos aguardar para ver se Pence adotará uma postura de “conservador moderado”, ou se pretende, repetindo as polêmicas do passado, ser uma extrema direita alternativa à de Trump.

 

* Lucas Barbosa é pesquisador colaborador do OPEU e graduado em Relações Internacionais (IRID/UFRJ). Cobre a área de relações Estados Unidos-América Latina e administra a conta do OPEU no LinkedIn.

** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 11 jun. 2023. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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