Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 7 a 13 mar. 2022)

Secretário americano da Defesa, Lloyd Austin (Fonte: Garystockbridge617.getarchive.net)

Por Equipe OPEU*

África, por Luísa Azevedo

Na terça-feira (8), a vice-secretária de Estado americano, Wendy Sherman, reiterou o apoio dos Estados Unidos a um plano marroquino pela autonomia do Saara Ocidental. Em visita à região, a enviada especial estadunidense esteve em encontros diplomáticos no Marrocos e na Argélia, atuando no intuito de encerrar o conflito separatista entre o povo sarauí e o Reino de Marrocos, em curso desde 1970. Cabe lembrar o reconhecimento da soberania do Reino do Marrocos em 2020 por parte do governo Donald Trump, posicionamento mantido até o momento por seu sucessor, presidente Joe Biden.

Undersecretary of State for Political Affairs Wendy Sherma… | Flickr(Arquivo) A então subsecretária de Estado americana para Assuntos Políticos, Wendy Sherman, em 16 out. 2013 (Crédito: U.S. Mission Geneva/Eric Bridiers)

Na quinta (11), o Departamento de Estado americano sediou o 8º Diálogo de Alto Nível entre a Comissão Estados Unidos-União Africana. Na reunião, foi discutida a promoção compartilhada da democracia, das agendas climática, econômica, energética e de segurança sanitária global. Ainda, as delegações assinaram um memorando de cooperação com a Comissão da União Africana e com Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças (Africa CDC, na sigla em inglês), consolidando a parceria do governo americano com a organização, líder regional na agenda sanitária global.

Uma operação militar estadunidense realizou um ataque aéreo por drones que matou mais de 200 militantes e oficiais do Al-Shabaab, grupo fundamentalista islâmico atuante no sul da Somália. A ação se deu no domingo (13), em cooperação com o Exército Nacional da Somália. Passados seis meses sem ataques, é a primeira vez no ano que as forças militares americanas atuam no país, em um momento de propostas do governo Biden pelo retorno de tropas estadunidenses para aprimorar o treinamento e a coordenação com as forças de segurança somalis.

Leia também o artigo de opinião de Cheta Nwanze para o portal Al Jazeera, no qual analisa a perspectiva de defesa da democracia na África frente ao conflituoso cenário dos países ocidentais com a Rússia e à disputa do Ocidente com a China pelo campo de influência no continente.

América Latina, por Vitória de Oliveira Callé

Na segunda-feira (7), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, confirmou que uma delegação dos EUA fora enviada à Caracas no final de semana para debater questões de segurança energética com o governo de Nicolás Maduro. Há três anos, os governos de EUA e Venezuela romperam relações diplomáticas, em meio a acusações de fraude eleitoral na posse de Maduro em 2018 e do reconhecimento pelos EUA, do líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente legítimo da Venezuela. Frente à Guerra da Ucrânia e ao empenho dos EUA em isolar a Rússia da comunidade internacional, a revisão das sanções ao petróleo venezuelano se apresenta como alternativa comercial para viabilizar as tentativas de boicotar a indústria energética russa. Ainda no dia 7, Maduro descreveu o encontro para a imprensa: “Tivemos uma reunião, que eu poderia avaliar como respeitosa, cordial, muito diplomática… E ratifico, como disse à delegação, toda nossa vontade de diplomacia, de respeito e da máxima esperança de um mundo melhor. Podemos avançar em uma agenda que permita o bem-estar e a paz dos povos do nosso hemisfério, da nossa região”.

Dias após a reunião, na terça-feira (8), foi noticiado que dois cidadãos dos Estados Unidos que haviam sido presos pelo governo venezuelano foram libertados. Um deles é Gustavo Cardenas, detido em 2017 junto com outros seus executivos da petroleira Citgo. O segundo é o cidadão cubano-americano identificado como Jorge Alberto Fernandez. No mesmo dia, o presidente Biden se pronunciou: “Hoje à noite, dois americanos que foram detidos injustamente na Venezuela poderão abraçar suas famílias mais uma vez”. No dia seguinte, o Departamento de Estado anunciou que ambos retornaram para os Estados Unidos em segurança.

Também na quarta-feira (9), o Departamento de Estado dos EUA informou que os nomes de nove parlamentares do governo da Nicarágua foram incluídos na lista de “Atores Corruptos e Antidemocráticos” por “abalarem processos ou instituições democráticas da Nicarágua”. A decisão foi tomada no âmbito da lei Reforço à Adesão da Nicarágua às Condições para a Lei de Reforma Eleitoral de 2021 (RENACER, na sigla em inglês), aprovada na administração Biden, a qual expandiu a lista anterior para a inclusão de atores nicaraguenses.

Ainda no dia 9, o Departamento de Estado também comunicou a proibição da entrada do ex-presidente do Equador Abdalá Bucaram nos EUA. A designação resultou do entendimento, por parte de Washington, de envolvimento de Bucaram em “corrupção significativa”, incluindo, entre outros atos, “apropriação indevida de fundos públicos, aceitação de subornos e interferência em processos públicos”. A decisão se dá sob a autoridade da Seção 7031 (c) do departamento, a qual prevê que os funcionários de governos estrangeiros designados, envolvidos em casos de corrupção, direta ou indiretamente, e seus familiares imediatos estarão inelegíveis para ingresso nos EUA.

China, Rússia e Ucrânia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha

Autoridades chinesas e americanas se encontrarão em Roma, Itália, para discutirimpactos e possíveis resoluções para o conflito na Ucrânia. O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, reúne-se com o conselheiro da Política Externa chinesa, Yang Jiechi, no dia 14. Um ponto de tensão diz respeito ao apoio chinês à Rússia para contornar o peso das sanções econômicas impostas a Moscou por países ocidentais. Ademais, membros do governo Biden afirmam que a China dissemina “falsas acusações russas” de que a Ucrânia estaria desenvolvendo laboratórios de armas químicas e biológicas com apoio americano. Essas acusações geraram novos atritos nas relações Estados Unidos-China. Na reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, ocorrida na sexta-feira (11), o embaixador chinês na Casa, Zhang Jun, disse que “a China observou com atenção as relevantes informações divulgadas pela Rússia”, enfatizando a necessidade de maior esclarecimento e fiscalização das partes envolvidas. Segundo a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, “agora que a Rússia fez essas falsas afirmações, e a China aparentemente endossou essa propaganda, nós devemos ficar atentos para a possibilidade de a Rússia usar armas químicas, ou biológicas, na Ucrânia, ou para criar uma operação de bandeira falsa, usando-as. É um padrão”.

Coreia do Norte, por Eduardo Mangueira

O incremento nos testes de mísseis balísticos norte-coreanos preocupa o Comando Indo-Pacífico estadunidense (INDOPACOM, na sigla em inglês). Na última quinta-feira (10), a Coreia do Norte realizou o teste de dois mísseis. Segundo o Pentágono, tais experimentos seriam parte da avaliação de um sistema de Mísseis Balísticos Intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês), armas que teriam capacidade de atingir o solo estadunidense e carregar ogivas nucleares. Observa-se um aumento desses testes, com janeiro deste ano alcançando o mês de maior número desde 2017. Em resposta ao que consideram uma “escalada séria” de tensões, os Estados Unidos anunciaram maior vigilância e ações de reconhecimento na região, bem como a imposição de sanções sobre indivíduos e empresas russas envolvidas na facilitação desses testes.

Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt

Na terça-feira (8), autoridades do Departamento americano de Defesa qualificaram Rússia e China como desafios à segurança nacional dos Estados Unidos. Foram destacados os avanços espaciais das duas potências, assim como de sua capacidade nuclear, os quais possibilitam a ambos os países, nas palavras do comandante do Comando Estratégico americano, Charles A. Richard, “escalar unilateralmente para qualquer nível de violência, em qualquer domínio mundial, com qualquer instrumento de poder nacional, a qualquer momento”. Richard enfatizou que todos os planos operacionais do Departamento de Defesa se apoiam no pressuposto de que a dissuasão estratégica está sendo mantida, em especial a dissuasão nuclear. Esta última requer a modernização da tríade: “bombardeiros estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos, somados ao comando nuclear, controle e comunicações”.

Na quarta (9), o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, agradeceu publicamente à Polônia pela disposição em ajudar, mas dispensou a oferta de envio de aeronaves MIG-29 para a Ucrânia. Segundo ele, a medida poderia levar a uma escalada militar com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Em entrevista coletiva, o secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby, disse que: “A melhor maneira de apoiar a defesa ucraniana é fornecendo-lhes as armas e os sistemas de que eles mais precisam para derrotar a agressão russa; em particular, antiblindados e defesa aérea”. Conforme o assessor, o reforço enviado pelos Estados Unidos e por outras nações teria reduzido o avanço russo ao norte, como evidencia o espaço aéreo ainda em disputa.

Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares

Na terça-feira (8), o presidente Joe Biden anunciou a proibição de importações de produtos energéticos russos, setor classificado pelo democrata como “principal artéria da economia da Rússia”. Será – acrescentou Biden – um “potente golpe na máquina de guerra de Putin”. A medida se destina a aumentar a pressão das sanções sobre a economia russa, mas implicará também o aumento dos preços do gás nos EUA. A esse respeito, o presidente ressaltou que “a guerra de Putin já está prejudicando as famílias americanas na bomba de gasolina” e que irá “fazer tudo o que puder para minimizar o aumento de preços”. As declarações de Biden podem ser entendidas, entre outras coisas, como uma antecipação aos esforços republicanos de culpá-lo pela alta dos preços do gás no país.

De fato, a guerra agrava, mas não é o único fator para a elevação dos preços do gás e, em termos mais amplos, da inflação nos Estados Unidos. O Bureau of Labor Statistics (“Escritório de Estatísticas do Trabalho”, em tradução livre) divulgou os dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que registrou um aumento de 7,9% no período de 12 meses que terminou em fevereiro. Esse ritmo é o mais rápido de inflação anual em 40 anos. A inflação foi puxada pelo aumento dos custos de alimentação e do aluguel, bem como pelo aumento – ainda anterior à Guerra na Ucrânia – dos preços do gás. O valor da gasolina subiu 38% no período de 12 meses, de modo que a proibição das importações de petróleo, gás natural e carvão russos tende a impactar ainda mais a economia norte-americana. Assim, são esperados números ainda mais altos para o relatório referente à inflação até março.

Meio Ambiente e Energia, por Lucas Amorim

Diante do impacto presumido da proibição das importações dos produtos energéticos russos sobre os preços das commodities energéticas, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, expressou dúvida em relação à efetividade da medida. Segundo Psaki, o Executivo hesitava em adotar a proibição por medo do efeito nos preços do setor. Uma alta do preço do petróleo levaria a um aumento da inflação para o consumidor americano, tanto direta (caso dos derivados do petróleo, como gasolina, óleo diesel e energia elétrica), quanto indiretamente, tendo em vista a alta dependência no país do modal de transporte rodoviário. A declaração da secretária de imprensa também destaca que há a possibilidade de que o próprio governo russo lucre com o aumento de preço que pode ser gerado no mercado internacional de petróleo e gás.

Após a ação de Biden por ordem executiva, a Câmara de Representantes aprovou um projeto, no dia 10, que consagra em lei as sanções ao setor energético russo. A legislação vai além do decreto do presidente, ao “encorajar” a revisão do status da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e sinalizar o apoio dos Estados Unidos a sanções contra autoridades deste país por violações de direitos humanos. Para tornar-se lei, o projeto precisa ser aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente. Este resultado é praticamente garantido, considerando-se a aprovação por ampla maioria bipartidária na Câmara.

Estação de energia de Mezhdunarodnaya, em Moscou, em 6 set. 2017 (Crédito: Andrey Filippov/Wikimedia Commons)

Nesta mesma semana, as medidas econômicas contra a Rússia geraram aumentos no valor da gasolina e da eletricidade, os quais já começam a ser percebidos pelos consumidores. Congressistas e sindicalistas pediram a Biden que invoque poderes de emergência previstos na Lei de Produção de Defesa, de 1950, para obrigar o setor industrial doméstico a produzir petróleo e painéis solares. Essa lei foi utilizada, recentemente, pelo governo Trump, em meio à pandemia da covid-19, para ampliar a produção de máscaras de proteção. Além disso, Biden iniciou diálogos com outros países produtores de petróleo, com o objetivo de ampliar sua produção. Destacam-se as tentativas frustradas de contato com os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, cujos líderes ser recusaram a falar com o presidente americano, e a retomada de conversas com a Venezuela.

Oriente Médio, por Luísa Azevedo

Na quinta (10), após 11 meses de negociações para restaurar o acordo nuclear iraniano de 2015, as discussões foram paralisadas. O impasse se deu pela demanda de Moscou de obter garantias por escrito de que as recentes sanções ocidentais contra a Rússia não afetarão seu comércio com o Irã. Para além disso, as autoridades iranianas também endureceram o tom. O líder supremo do Irã, Ali Hosseini Khamenei, afirmou que o país não seria ingênuo de se curvar às pressões para reduzir seu poder defensivo, sua presença regional e seu progresso na tecnologia nuclear: “a presença regional nos dá profundidade estratégica e mais poder. Por que deveríamos abrir mão dela?”. A nova circunstância com a Rússia é mais um obstáculo para o acordo final. Pesam também as garantias exigidas pelos iranianos de que nenhum futuro presidente estadunidense possa, novamente, abandonar o acordo.

Ainda na quinta-feira, o presidente Biden declarou, formalmente, o Catar como importante aliado extra-OTAN. A medida reflete a aproximação estratégica entre os países da região do Golfo Pérsico, sendo este o terceiro designado, depois de Kuwait e Bahrein. Ademais, o Catar é um dos maiores produtores de gás natural liquefeito, representando uma alternativa para o governo americano diante do banimento de importação de petróleo e gás russos. Em telefonema, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro catariano das Relações Exteriores, emir Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, discutiram a continuidade de trânsito seguro de refugiados do Afeganistão e comemoraram o 50º aniversário das relações diplomáticas entre os países, em 19 de março.

O Irã assumiu responsabilidade pelo ataque de mísseis que atingiu as proximidades do complexo consular dos Estados Unidos no norte do Iraque, no domingo (13). A ação foi justificada como retaliação ataque ofensiva israelense na Síria, no início da semana, na qual morreram dois membros da Guarda Revolucionária iraniana. O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, disse que “os ataques foram uma violação ultrajante da soberania do Iraque”. Ainda de acordo com o assessor, nenhuma instalação do consulado foi danificada e não há indícios de que o ataque tenha sido direcionado aos Estados Unidos, visto que a Guarda Revolucionária afirma oficialmente que o alvo foi um centro de espionagem israelense no Curdistão iraquiano.

Política Doméstica, por Augusto Scapini

O ex-presidente Donald Trump continua sendo investigado. Um panorama publicado pelo jornal The New York Times, no dia 5, expõe mais detalhes da investigação por suposta supervalorização de propriedades conduzida pela Trump Organization. O caso passa pela renúncia dos procuradores Carey Dunne e Mark Pomerantz, que lideravam a investigação, após o promotor público do Distrito de Manhattan, Alvin Bragg, anunciar que não estava preparado para indiciar o ex-presidente. Especialistas entrevistados pelo jornal britânico The Guardian afirmam que são crescentes as chances de Trump enfrentar acusações criminais, tanto por seu suposto envolvimento na invasão ao Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro do ano passado, quanto por suas tentativas de subverter os resultados das eleições de 2020.

No dia 8, o Senado do estado da Flórida aprovou a chamada lei “Don’t Say Gay” (Não Diga Gay), que impede as escolas públicas de ensinarem crianças sobre tópicos como orientação sexual e identidade de gênero. O governador republicano Ron DeSantis já havia declarado seu apoio e sua intenção de sancionar a lei, assim que ela for aprovada.

No dia 10, Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional e aliado de Trump, compareceu diante do Comitê da Câmara de Representantes responsável pela investigação da invasão ao Capitólio, após perder os recursos judiciais contra a intimação emitida pelo Comitê em novembro passado. Flynn foi procurado quando documentos mostraram seu envolvimento nas tentativas de Trump de tentar reverter os resultados das eleições de 2020. Na audiência, evitou responder às perguntas do Comitê, invocando seu direito à não autoincriminação, garantido pela Quinta Emenda Constitucional.

 

* Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mail: tatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mail: tcarlotti@gmail.com.

 

 

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