Trump demite Tillerson e escolhe falcão para diplomacia, Mike Pompeo, da CIA

por Tatiana Teixeira

Foi pelo Twitter que o presidente Donald Trump informou, em 13 de março, que demitia um de seus mais importantes secretários (“um homem muito bom”), substituindo-o pelo diretor da CIA, o falcão Mike Pompeo. Sua substituta no órgão, Gina Haspel assume o posto na Agência Central de Inteligência. Primeira mulher a ocupar essa posição, Gina – “uma pessoa extraordinária”, nas palavras de Trump – foi investigada por seu papel no programa de torturas da CIA na administração republicana de George W. Bush, assim como na destruição de provas por parte dessa mesma agência.

Em Washington, o anúncio surpreendeu mais pela forma do que pelo conteúdo. Sendo fritado pela Casa Branca há meses e sem apoio dos próprios funcionários, Rex Tillerson até que resistiu bastante tempo à frente do Departamento de Estado (DoS, na sigla em inglês), uma pasta já bastante esvaziada, com corte de recursos, em crise e até disfuncional.

Pompeo e Gina precisam ser confirmados pelo Senado antes de assumirem suas respectivas funções, o que deve acontecer em abril. Até lá, o então vice de Tillerson, John Sullivan, assume o cargo de forma interina.

Agenda sensível

A saída de Tillerson se dá às vésperas de dois acontecimentos de alta tensão para as áreas de política externa e defesa dos EUA com implicações para o restante do mundo: o possível encontro de Trump com o dirigente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, para discutir a desnuclearização da península e a manutenção (ou não) por parte dos EUA dos termos do acordo nuclear do Irã. Para a líder democrata na Câmara dos Representantes (D-CA), Nancy Pelosi, a mudança de titularidade no DoS enfraquece ainda mais os EUA aos olhos da comunidade internacional. Também pode causar desconfiança e pode favorecer a instabilidade decisória.

Convergência de pensamento

Como aconteceu em diferentes momentos na relação Trump-Tillerson, o desfecho desses quase 13 meses de gestão foi confuso e marcado por declarações desencontradas. O anúncio da demissão foi feito apenas algumas horas depois de o secretário chegar a Washington após uma viagem pela África. Tillerson teria sido pego desprevenido. De acordo com nota divulgada pelo subsecretário para Diplomacia Pública, Steve Goldstein (ele mesmo demitido horas após divulgar esse comunicado), o ex-CEO da Exxon Mobil, amigo de Vladimir Putin e agora ex-secretário “não está informado” do motivo exato da demissão, manifestando “toda intenção de permanecer” no posto. Este foi o primeiro cargo público de Tilllerson.

Já Trump afirmou que “Rex e eu temos falado disso há um longo tempo”. Ele mencionou o acordo nuclear com o Irã como um ponto de divergência. “Nós não estávamos realmente pensando do mesmo jeito”, comentou Trump. “Com Mike Pompeo, temos um jeito parecido de pensar”, disse o presidente à imprensa. “A relação sempre foi muito boa e é disso que eu preciso”, insistiu, referindo-se a Pompeo, formado na Academia Militar Americana de West Point e em Harvard e um ex-representante (R-KS) com passagem pelo Comitê de Inteligência do Congresso.

“Quando você olha para o acordo do Irã: eu acho que é terrível, eu acho que para ele (Tillerson) era OK. Eu queria ou romper com ele (o acordo), ou fazer algo, e ele tinha uma ideia um pouco diferente sobre isso”, comentou o presidente. Enquanto Tillerson é mais flexível, Pompeo é claramente contrário ao acordo, além de ser visto como mais leal a Trump e em sintonia com os pontos do programa-base de seu governo, o America First.

Em sua declaração de agradecimento pelo convite, Pompeo observou: “Sua liderança (a de Trump) tornou a América mais segura e estou ansioso para representá-lo e representar o povo americano para o resto do mundo para promover a prosperidade da América”.

Diferenças irreconciliáveis

A linha do tempo da passagem de Tillerson pela pasta dá uma série de pistas dos motivos da demissão. Empresários, Trump e Tillerson não se tornaram animais políticos exatamente da mesma espécie e estilo. O vínculo entre os dois não era de ordem pessoal, sempre foi frágil e tinha muitos pontos de fricção. Além disso, ambos tinham opiniões diferentes sobre várias áreas: de política comercial e mudança climática ao programa nuclear iraniano, passando pela suspeita de interferência da Rússia na eleição presidencial dos Estados Unidos de 2016, pela melhor abordagem no trato com a Coreia do Norte e pela divergência sobre o papel e o peso da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Em muitos momentos, como no caso de Pyongyang, Trump desautorizou publicamente o chefe de sua diplomacia tanto pelo Twitter quanto em entrevistas. E, várias vezes, Tillerson teve de negar os boatos de sua saída iminente. Ele nunca negou, porém, ter chamado Trump de “moron” (idiota), episódio que – afirmam pessoas próximas – realmente aconteceu e nunca foi bem digerido pelo presidente.

‘Caos algum’

Em uma série de tuítes no início do mês, Trump alardeou não haver “caos algum, apenas grande Energia” na Casa Branca. O movimento propagandístico do presidente foi inócuo. Entre demitidos e pedidos de demissões, o que se viu nas últimas duas semanas foi uma nova revoada no alto escalão. Depois do recente anúncio de Trump de sobretaxar o aço e o alumínio, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Gary Cohn, abandonou o barco na semana passada. Engrossam essa lista Hope Hicks, diretor de Comunicações de Trump; o assistente pessoal do presidente John McEntee; o porta-voz e conselheiro de Ivanka, Josh Raffel. Algo incomum, a gestão Trump já havia registrado um grande número de baixas (voluntárias e involuntárias) em cargos importantes em seu primeiro ano de existência.

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