Será que o santo bate? Perspectivas para a relação entre o papa Leão XIV e Trump

Novo papa, o americano Robert Prevost (Crédito: Doc Kazi/Flickr)
Por Andressa Amorim, Camila Brandão e José Eduardo Milheirão* [Informe OPEU]
O dia 8 de maio de 2025 foi marcado por um acontecimento histórico: a escolha do novo papa. Após dias de conclave, os sinos da Basílica de São Bento e a tradicional fumaça branca anunciaram ao mundo o consenso entre os cardeais. Estava definido aquele que sucederia ao papa Francisco, falecido aos 88 anos, vítima de um AVC e de insuficiência cardíaca.
Como primeiro latino-americano a assumir o papado, Francisco construiu, ao longo de 12 anos, uma imagem de inclusão e de proximidade com os marginalizados. Considerado por muitos um pontífice progressista, teve sua liderança marcada por discursos em favor da comunidade LGBT, de justiça social, da defesa do meio ambiente e do diálogo inter-religioso. Seu posicionamento diante de temas contemporâneos rendeu-lhe admiração e também resistência, mas não o impediu de promover reformas na Santa Sé, especialmente no que tange à ampliação dos espaços de participação para leigos e mulheres dentro da Igreja.

Foto oficial do papa Leão XIV
É neste cenário de transição e expectativa que emerge seu sucessor. O eleito, o americano Robert Prevost (imagem ao lado), adotou o nome de Leão XIV, uma escolha simbólica que já indica as possíveis diretrizes de seu pontificado. Ao evocar Leão XIII, pontífice lembrado por seu firme compromisso com as questões sociais e pela disposição ao diálogo com o mundo moderno, Prevost sinaliza um perfil igualmente reformador e atento às transformações do presente. Sua eleição também reflete o reconhecimento de sua ampla experiência pastoral e missionária, principalmente na América Latina, onde atuou por muitos anos e consolidou uma trajetória pontuada pela escuta, pela proximidade com os fiéis e pela defesa da justiça social.
Quem é Leão XIV
Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, e atualmente com 69 anos, Robert Prevost, agora papa Leão XIV, iniciou sua vida religiosa ainda na juventude, aos 22 anos. Apesar de ser norte-americano de origem, foi na América do Sul, mais precisamente no Peru, onde ele consolidou grande parte de sua trajetória e atuação pastoral. Com isso, passou boa parcela de sua vida missionária no território peruano, o que ocasionou, inclusive, a concessão de sua cidadania.
Posto isso, vale mencionar que, recentemente, Leão XIV foi nomeado pelo papa Francisco como líder do Dicastério dos Bispos, posição que lhe conferiu significativa influência nas nomeações episcopais ao redor do mundo. Ademais, o novo pontífice também é um membro da Ordem Religiosa Agostiniana, sendo amplamente reconhecido pela profunda contribuição teológica e pelo compromisso com a fé católica.
O mais novo papa representa um marco inédito na relação entre fiéis e a Igreja Católica, adotando uma presença ativa nas redes sociais. Um exemplo claro dessa aproximação digital é sua conta no Instagram (imagem abaixo), que atualmente reúne 13 milhões de seguidores. Esse engajamento digital reforça a imagem de um pontífice atento às transformações da sociedade e disposto a dialogar com o mundo contemporâneo em suas múltiplas linguagens.
Já no que refere aos seus posicionamentos, Leão XIV, por ora, demonstra certa continuidade em relação a algumas das diretrizes adotadas por seu antecessor. Nesse contexto, parte de suas afinidades foi anteriormente manifestada por meio de publicações em sua antiga conta no Twitter (atual X), em que o líder da Igreja Católica tem abordado temas como justiça social, acolhimento aos marginalizados, pena de morte, preservação ambiental e diálogo inter-religioso. Em 2015, por exemplo, Presvot tuitou um artigo, no qual criticou a política migratória de Donald Trump, alegando ser problemática.
Pontos de discordância entre Leão XIV e Trump
Direitos humanos, Questão Palestina e discriminação
Em seu primeiro discurso após ser eleito papa, Robert Prevost solicitou a ajuda dos fiéis e da comunidade internacional para construir pontes, com base no diálogo, em encontros e na união. A continuidade da linha adotada por Francisco deverá se refletir, sobretudo, em temas como justiça social, imigração e direitos humanos, visto que sua vivência na América Latina tornou-o um grande defensor dessas pautas. Tais posicionamentos poderão gerar atritos com o atual presidente dos Estados Unidos, uma vez que o chefe do Executivo estadunidense tem aplicado políticas rígidas contra imigrantes e buscado desmantelar diretrizes de inclusão e paridade étnico-racial.
A situação em curso na Faixa de Gaza também pode representar uma divisão entre os dois líderes. A Questão Palestina tem gerado preocupação no cenário internacional, diante das graves violações de direitos humanos praticadas pelo Estado de Israel contra o povo palestino – mais notadamente, no que diz respeito ao direito à vida, à segurança e à saúde. Ainda em seu primeiro discurso, Leão XIV pediu cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas e solicitou o envio de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
É relevante recordar os posicionamentos de Trump em relação à causa Palestina. O republicano vem perseguindo universidades, grupos e ativistas que se posicionem a favor de um Estado palestino. E, recentemente, divulgou um vídeo gerado por Inteligência Artificial, no qual a Faixa de Gaza é transformada em um resort.
Em 15 de maio, durante visita ao Catar, Trump afirmou que pretende controlar Gaza. Insistiu, pois, em sua ideia de repovoar o território com pessoas de diversas partes do mundo por meio de uma organização privada, transformando-a em uma “Riviera do Oriente Médio”. Em contrapartida a essa ideia, desde o papado de Bento XVI, defensor da criação de um Estado Palestino soberano, o Vaticano apela pela defesa dos palestinos.
Outro episódio que evidenciou divergência entre o papa Leão XIV e Washington foi o assassinato de George Floyd, que intensificou as manifestações do movimento Black Lives Matter. O movimento foi apoiado pelo papa, que publicou em seu perfil do Twitter (X): “Precisamos ouvir mais os líderes da Igreja, rechaçar o racismo e buscar justiça”.
Adicionalmente, o novo líder da Igreja Católica utilizou a rede social para pedir reforma no controle das armas. Ele também compartilhou uma declaração de Chris Murphy, senador democrata pelo estado de Connecticut (D-CT), criticando a legislação armamentista do país. Em 16 de maio, Leão XIV pediu a suspensão da produção de armas e a valorização dos esforços pela paz em seu discurso para diplomatas, além de ter reiterado que a dignidade dos migrantes precisa ser respeitada.
Pena de morte
No tocante à pena de morte, Donald Trump sinalizou, mais de uma vez, que pensa em retomar a prática em todo o país. Logo no início de seu mandato, em janeiro, Trump declarou seu interesse em aplicar pena de morte em imigrantes em situação de ilegalidade que assassinarem cidadãos estadunidenses. Além disso, após ter sido eleito, o presidente norte-americano reiterou a necessidade de expandir a pena de morte para serial killers e estupradores.
A posição do sumo pontífice em relação à prática vai de encontro às declarações de Trump. Em 2015, por exemplo, Presvot compartilhou, nas redes sociais, um vídeo crítico à pena de morte, válida nos Estados Unidos, e disse que é “inadmissível”. Posteriormente, em 2022, durante uma entrevista ao jornal peruano La Republica, afirmou que “Pessoalmente, vou proclamar na Santa Missa, que temos que estar sempre a favor da vida, em todo momento. Isso significa que, não pessoalmente, mas como Igreja, que a pena de morte não é admissível”. Sendo assim, declarou que a Igreja não admite a pena de morte sob qualquer circunstância, enfatizando a importância da vida e da dignidade humana.
Política e discurso anti-imigrante
Ao se posicionar como um papa não alinhado ao trumpismo, Leão XIV demonstra sensibilidade em relação às pautas migratórias, em continuidade com as posturas adotadas por seu antecessor Francisco, frequentemente visto como crítico das políticas da extrema direita. Nesse sentido, é importante destacar que o pontificado anterior se notabilizou por firmes críticas aos discursos e práticas anti-imigrantes, sobretudo, em contextos de crise humanitária. Um exemplo marcante foi a visita do papa Francisco à ilha de Lampedusa, na Itália, porta de entrada de milhares de migrantes. Na ocasião, expressou sua profunda insatisfação com a indiferença diante do sofrimento. “A ilusão pelo insignificante, pelo provisório, nos leva à indiferença em relação aos outros, nos leva à globalização da indiferença”, advertiu ele, em sua primeira viagem oficial dentro do país, estabelecendo um marco simbólico e ético para sua atuação.
Saiba mais sobre o novo papa neste Informe OPEU de Andy Mickelly Canovas Lima
Recentemente, Leão XIV não hesitou em fazer críticas públicas às políticas migratórias adotadas por Donald Trump, reforçando sua postura contrária às medidas excludentes e de cunho nacionalista. As declarações do pontífice repercutiram amplamente, levando o presidente norte-americano a afirmar, em entrevista à emissora Fox News, que estaria disposto a dialogar com o papa sobre o tema. Apesar disso, ele demonstrou surpresa com a escolha de Robert Prevost como novo líder da Igreja Católica.
Adicionalmente, ao criticar as medidas anti-imigração adotadas por Donald Trump, Prevost demonstrou grande insatisfação, publicando em sua antiga conta no Twitter: “Você não vê o sofrimento? Sua consciência não está perturbada? Como você consegue ficar quieto?”. A declaração, dada antes de sua eleição ao papado, evidencia seu posicionamento firme em relação aos direitos humanos e seu compromisso com os princípios eclesiásticos de compaixão e de acolhimento.
Ademais, em resposta às falas de cunho preconceituoso proferidas por J.D. Vance — vice-presidente republicano e aliado de Trump —, em fevereiro deste ano, o papa Leão XIV publicou no National Catholic Reporter o artigo “J.D. Vance está errado: Jesus não nos pede para organizar o nosso amor pelos outros”. A longo do texto, Prevost critica a retórica política baseada na discriminação, por parte dos atuais líderes políticos norte-americanos.
Questões climáticas
Para além das pautas relacionadas aos direitos humanos e à imigração, Leão XIV provavelmente irá se opor às ideias de Donald Trump, no que se refere à mudança climática. Chiclayo, no Peru, onde o pontífice viveu por oito anos, enfrenta uma grave crise ambiental, cujas causas decorrem da má gestão de resíduos e da ineficiência da infraestrutura de saneamento básico. Durante sua permanência na região, Leão XIV presenciou os impactos da deterioração ambiental, prestando serviços e apoio às populações vulneráveis atingidas por essa realidade.
Diante desse contexto, o sumo pontífice se mostrou um defensor das causas ambientais. Enquanto bispo em Chiclayo, organizou a Iniciativa Inter-religiosa para Florestas Tropicais, com foco na defesa do meio ambiente. No ano passado, alegou que o mundo deve avançar das palavras para a ação concreta no enfrentamento da mudança climática, declarando que “O domínio sobre a natureza” — a tarefa que Deus deu à humanidade — não deve se tornar “tirânico”. Deve ser uma “relação de reciprocidade” com o meio ambiente. Leão XIV também defendeu iniciativas de sustentabilidade promovidas por Francisco, bem como apoiou a encíclica Laudato Sí, que abordou a crise climática de uma perspectiva moral e ética. Outrossim, reforçou os compromissos da Igreja com a questão ambiental, alertando para as consequências provocadas pelo desenvolvimento tecnológico desenfreado.
Nos EUA, contudo, o governo de Donald Trump é marcado por uma série de medidas contrárias ao enfrentamento das mudanças climáticas. Uma das principais é a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima, tratado internacional primordial no enfrentamento da mudança climática e do aquecimento global. A medida teve como impacto um corte de US$ 4 bilhões para o fundo climático da ONU. Soma-se a isso o esvaziamento de cientistas estadunidenses do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). Mais recentemente, a administração Trump revogou diversas normas sobre regulação e proteção ambiental, pondo fim, por exemplo, ao limite de emissão de gás carbônico para usinas de energia e veículos.
Pontos de convergência entre Leão XIV e Trump
Oposição ao aborto e defesa da família tradicional
Embora tenham diferenças marcantes, o papa Leão XIV e Donald Trump compartilham algumas opiniões. Como esperado, o pontífice tem posições contra o aborto e, diferentemente de Francisco, transparece certo conservadorismo em temáticas que envolvem a comunidade LGBTQIA+. Em discurso para diplomatas, em 16 de maio, o papa Leão XIV defendeu o casamento heterossexual como um “fundamento” da família em uma “sociedade harmoniosa e pacífica”. Esta foi a primeira vez que o pontífice citou o casamento em seus discursos, mas, como mencionado, antes de assumir o papado, Robert Presvot já havia declarado ser contra a união de pessoas do mesmo sexo. Em 2012, por exemplo, lamentou que a mídia ocidental e a cultura promovessem “simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho”, referindo-se ao “estilo de vida homossexual”.
Nos Estados Unidos de Trump, a retórica conservadora sai dos discursos e se torna realidade. Logo no início do novo mandato, o presidente solicitou que a Casa Branca removesse os termos “gays”, “trans” e “lésbicas” dos sites da administração federal. A medida não foi isolada e segue uma trajetória de declarações polêmicas contra políticas de apoio à diversidade e outras medidas institucionais contrárias à população LGBT.
No que diz respeito ao aborto, é esperado que a Igreja Católica, enquanto instituição religiosa, posicione-se contra a prática. Embora criticasse a fixação da Igreja com o tema, o próprio papa Francisco, por exemplo, já havia se declarado contrário ao aborto mais de uma vez. Seria improvável, portanto, esperar uma postura diferente no papado de Presvot. No mesmo discurso proferido a diplomatas, em 16 de maio, Leão XIV reiterou a posição da Igreja contra o aborto. E, em 2013, já havia compartilhado um tuíte que classificava o aborto como uma forma de violência e incentivava a adoção.
Nos EUA, por sua vez, o tema do aborto é polarizado. Após julgamento da Suprema Corte, os estados passaram a ter autonomia para legislar sobre o tema, podendo considerar o aborto legal ou não. A opinião pública é, no entanto, majoritariamente a favor do aborto, inclusive entre os católicos, como mostra pesquisa divulgada pelo Pew Research Center. O que revela um afastamento de opinião entre os fiéis e a Igreja. Ainda assim, a postura antiaborto é um ponto em comum entre o papa Leão XIV e o presidente Donald Trump. Em janeiro deste ano, Trump participou da Marcha pela Vida, além de ter concedido perdão presidencial a 23 ativistas antiaborto. Na mesma linha, o The Wall Street Journal noticiou que o governo norte-americano estaria estudando retirar os subsídios da Planned Parenthood, organização responsável por promover métodos contraceptivos. Apesar dessa postura, enquanto candidato à Presidência, Trump se esquivou de se declarar contrário à prática, alegando, até mesmo, que poderia vetar uma proibição federal ao aborto.
Crescimento da tensão entre Washington e o Vaticano
Cabe destacar que as relações entre Donald Trump e o Vaticano vêm-se deteriorando nos últimos anos, em razão das divergências entre o presidente norte-americano e o papa Francisco. As críticas públicas feitas pelo pontífice às posições de Trump sobre políticas migratórias e questões de discriminação durante seu primeiro mandato, bem como a guerra entre Ucrânia e Rússia, a situação atual na Faixa de Gaza e os direitos humanos dos povos palestinos, intensificaram as tensões entre a Igreja Católica e Washington.
Nesse cenário, não apenas a tentativa de Trump de exercer influência no Vaticano chama atenção, mas também a forma como seu governo vem-se apresentando como uma alternativa de visão ao catolicismo. Recentemente, o presidente compartilhou nas redes sociais uma imagem gerada por Inteligência Artificial, em que aparece trajado como papa (imagem à esq.). Posteriormente, o perfil oficial da Casa Branca compartilhou a imagem no Twitter (antigo X), o que gerou irritação por parte dos católicos. Além disso, há indícios de que Trump tentou exercer poder sobre o Vaticano, no intuito de influenciar a escolha do sucessor de Francisco e conseguir um papa mais alinhado aos pensamentos da extrema direita.
Em outra frente, o católico J.D. Vance tem buscado mobilizar mais fiéis americanos, para promover políticas de governo. Como exemplo, destaca-se o discurso de que, de acordo com a bíblia, deve-se defender e dar importância à família e à comunidade local, deixando o restante da humanidade, ou mundo, em segundo plano. Esse discurso reflete o forte nacionalismo cristão promovido por Donald Trump e seus aliados, algo já criticado por Leão XIV. A própria escolha pelo nome de Leão indica uma mensagem clara: o papa Leão XIII foi um grande crítico do nacionalismo extremo.
Divisão do eleitorado católico nos EUA
Essa tentativa de influência dentro da Igreja Católica tem impactado os fiéis, sobretudo, entre os católicos conservadores, em meio a questionamentos de sua possível insatisfação com o papa Francisco. Pesquisas indicam, no entanto, que 78% dos católicos norte-americanos viam Francisco de forma favorável.
Apesar disso, a divisão de opiniões entre os católicos tem aumentado ao longo dos anos, principalmente, entre conservadores e progressistas. A nomeação de um papa norte-americano com posições divergentes em relação ao atual governo poderá aprofundar ainda mais essa divisão. Especialistas acreditam que os discursos dos republicanos direcionados ao público católico terão menos credibilidade ante a presença de um líder americano na Igreja Católica que não corrobore essas visões.
Cabe destacar que, segundo dados do Pew Research Center, 60% dos católicos estadunidenses dizem desejar uma Igreja Católica mais inclusiva, mesmo que isso implique a mudança de alguns ensinamentos tradicionais. Em contrapartida, 37% preferem que a Igreja mantenha esses ensinamentos, ainda que isso reduza o número de fiéis. Entre os católicos que frequentam a igreja semanalmente, esse cenário se inverte: 53% manifestam a preferência por uma Igreja com os ensinamentos tradicionais, enquanto apenas 42% apoiam uma Igreja mais inclusiva.
Outra divergência se evidencia quando as opiniões entre democratas e republicanos são analisadas (imagem ao lado). Entre democratas e simpatizantes, 75% defendem uma Igreja mais inclusiva, número significativamente superior ao registrado entre republicanos e simpatizantes (45%). Já 53% dos republicanos preferem uma Igreja com ensinamentos tradicionais, contra apenas 21% dos democratas.
As divergências persistem em relação a temas mais progressistas dentro da Igreja Católica. A maioria dos fiéis acredita que casais que vivem juntos fora do casamento deveriam poder comungar. Além disso, do total de católicos entrevistados, 60% afirmam que casais do mesmo sexo deveriam receber a bênção dos sacerdotes, embora esse percentual caia para 46% entre os católicos que frequentam a igreja semanalmente. Para 50%, o casamento de pessoas do mesmo sexo deveria ser reconhecido pela Igreja Católica.
Desafios futuros
As divergências entre Leão XIV e Donald Trump indicam a perpetuação de uma relação conflituosa entre o governo norte-americano e o Vaticano, tal como foi durante o pontificado de Francisco. O novo obstáculo para Trump reside no fato de que, pela primeira vez, um norte-americano, líder da Igreja, questiona as ações do presidente. Dessa forma, a disputa por valores e ideias, como questões migratórias, direitos humanos e meio ambiente, tende a ser cada vez mais polarizada, assim como a contraposição ao nacionalismo. A defesa de diálogo e de soluções diplomáticas pacíficas, por parte do pontífice, também pode ser uma complicação. Isso mostra o abismo entre a Igreja Católica e os argumentos da extrema direita.
O papado de Prevost pode, ainda, acentuar mais a divisão já existente entre os católicos estadunidenses. O desafio para Leão XIV será questionar as posturas de Trump sem ser visto de forma negativa pelos apoiadores mais ferrenhos do presidente. Além disso, o papa terá que buscar um diálogo equilibrado entre a maioria dos fiéis que pedem uma Igreja mais inclusiva e os conservadores que apoiam a manutenção do tradicional. Adicionalmente, precisará lidar com o uso político da religião, ilustrado pela interpretação distorcida de ensinamentos, como fez o vice-presidente J.D. Vance.
A decisão do Vaticano de nomear um americano não-alinhado à maioria das posturas de Trump é uma resposta clara aos últimos comportamentos do presidente e de seus aliados. Há uma expectativa de que Leão XIV consiga exercer pressão em relação às posições adotadas por Trump e seu governo. O pontífice terá, contudo, um grande desafio em conciliar a polarização entre os fiéis estadunidenses e as políticas propostas pelos Estados Unidos. Robert Prevost poderá se colocar contrário ao nacionalismo e ao preconceito, especialmente contra imigrantes e palestinos, promovido pelo presidente norte-americano, projetando uma relação de debates e disputas por influência. O santo até pode bater em alguns pontos, mas, ao que tudo indica, os desacordos serão maiores.
* Andressa Amorim é graduanda em Relações Internacionais pela PUC-SP e integrante do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI) da PUC-SP. Contato: andressa.amorim14@hotmail.com.
Camila Brandão é graduanda em Relações Internacionais na PUC-SP e integrante do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI) da PUC-SP. Contato: camila.brandao@outlook.com.br.
José Eduardo Milheirão é graduando em Relações Internacionais na PUC-SP e integrante do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI) da PUC-SP. Contato: eduardomilheirao.pucsp@gmail.com.
** Primeira revisão: Andressa Mendes. Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Recebido em 20 de maio de 2025. Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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