Resenha OPEU

Reflexões sobre conflitos em “Guerra civil”, de Alex Garland

Por Carolina Weber* [Resenha OPEU]

Alex Garland – Wikipédia, a enciclopédia livre

Alex Garland (Fonte: Wikipedia/CC)

O filme “Guerra civil” (“Civil War”, no original), dirigido e roteirizado pelo britânico Alex Garland, chegou aos cinemas brasileiros no dia 18 de abril de 2024. A obra apresenta uma trama de suspense e ação, que, apesar de ter sido escrita há quatro anos, em 2020, narra um futuro distante (mas não tanto), quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos. A história mostra uma equipe jornalística de guerra: Lee (Kirsten Dunst), seu colega de trabalho Joel (Wagner Moura, o único brasileiro em cena), Sammy (Stephen Henderson), repórter do The New York Times e amigo de longa data de Lee e Joel, e a jovem Jesse (Cailee Spaeny), que deseja ser uma fotojornalista de guerra, assim como Lee.

Viajando pelos EUA, saindo de Nova York para chegar à capital, Washington, D.C., eles têm o intuito de captar a dimensão e a situação, na qual se encontra o país, além de conseguir alguma entrevista ou furo de reportagem com o presidente (Nick Offerman) antes que ele seja derrubado pela oposição. O longa se passa em um cenário violento que tomou as ruas do país, envolvendo praticamente toda a população dos Estados Unidos.

Sucesso de bilheteria no Brasil e nos EUA, a produção retrata, por meio de uma viagem de van da imprensa, os horrores e a violência de uma guerra, cidades abandonadas e/ou destruídas e carros largados pelas ruas e estradas do país. Para além disso, revela um cenário político em que esses jornalistas – Lee, Joel, Sammy e Jesse – precisam fazer de tudo para conseguir capturar e cobrir os mínimos detalhes do que acontece, ao mesmo tempo em que tentam se defender e sobreviver ao caos. E, apesar de levar o nome “Guerra civil”, não é um filme que tem o objetivo de falar da guerra em si, mas sim do papel dos jornalistas/fotojornalistas como testemunhas da guerra e de seus registros em meio a cenários violentos e de destruição.

Garland se aventura em um enredo diferente dos que costuma produzir, trazendo perigo, ação e uma mensagem política implícita. Implícita porque suas mensagens políticas não ficam tão claras ao longo da trama, deixando para o telespectador o trabalho da reflexão sobre, por exemplo, a ética dos jornalistas/fotojornalistas.

Além da jornada física em meio ao cenário de guerra, “Guerra civil” mergulha profundamente nos dilemas éticos enfrentados pelos jornalistas em zonas de conflito. Enquanto buscam capturar a verdade dos eventos, os personagens são confrontados com escolhas difíceis sobre quando intervir e quando simplesmente observar e documentar. Essa dualidade entre ser um observador imparcial e um participante ativo no cenário de guerra adiciona camadas de complexidade à narrativa.

Conhecido por obras como “Ex Machina” (2014) e “Aniquilação” (2018), Alex Garland mais uma vez demonstra sua habilidade em criar atmosferas claustrofóbicas e intrigantes. Em “Guerra civil”, porém, ele expande seu escopo, transportando o espectador para um mundo distópico, com ressonâncias contemporâneas. Ao retratar um futuro não tão distante, o filme levanta questões sobre os perigos da polarização política, os limites do jornalismo em um ambiente hostil e os desafios enfrentados por indivíduos tentando manter sua humanidade em tempos de caos e desespero.

A interpretação excepcional do elenco também contribui para a riqueza da narrativa. Kirsten Dunst entrega uma performance emotiva e cativante como a determinada jornalista Lee, enquanto Wagner Moura traz uma intensidade palpável ao papel de Joel, um homem confrontado com suas próprias crenças e limitações morais em meio ao conflito. Stephen Henderson e Cailee Spaeny complementam o elenco, trazendo profundidade e vulnerabilidade aos seus respectivos personagens.

Em última análise, “Guerra civil” não se limita a ser apenas um filme sobre guerra e jornalismo, mas também uma reflexão profunda sobre os valores fundamentais da humanidade e o preço da verdade em tempos de crise. Serve como um lembrete poderoso de que, mesmo nas circunstâncias mais sombrias, a esperança e a compaixão ainda podem ser encontradas, se tivermos coragem para buscá-las. O filme desafia os espectadores a considerarem não apenas as consequências imediatas da guerra, mas também o impacto duradouro que ela tem sobre a sociedade e sobre cada indivíduo envolvido.

 

* Carolina Weber é bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq), graduanda em Defesa e Gestão Estratégica Internacional do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). No OPEU, cobre a área de meio ambiente e energia dos EUA e faz parte da equipe do Instagram. Contato: carolinaweberds@gmail.com.

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Esta resenha não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU. Primeira versão enviada em 30 abr. 2024.

*** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora Tatiana Teixeira, no e-mailtatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mailtcarlotti@gmail.com.

 

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