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Bob Menendez: poderoso presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado é indiciado

Senador Robert Menendez (D-NJ) (Crédito: CC BY-Glyn Lowe Photoworks/Flickr)

Por Felipe Sodré Fabri, Gabriel Carvalho Fogaça, Leonardo Martins de Assis e Marcos Cordeiro Pires, para Latino Observatory* [Republicação]

Robert Menendez, conhecido também como Bob Menendez, é um político americano nascido em 1º de janeiro de 1954, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Ele nasceu em uma família de migrantes cubanos que vivia na cidade industrial de Union City, no estado de Nova Jersey. Esta cidade, depois da vitória da Revolução Cubana, converteu-se, durante a década de 1960, na segunda aglomeração de cubanos, perdendo apenas para Miami. Atualmente, é membro do Partido Democrata e serve como senador dos Estados Unidos, representando o estado de Nova Jersey, posição que ocupa desde 2006.

Em 2013, assumiu a presidência do Comitê de Relações Exteriores do Senado, tornando-se o primeiro latino a liderar esse comitê. Sua influência cresceu ainda mais durante seu segundo mandato como presidente, a partir de 2021, o que o colocou em uma posição de destaque na definição da política externa dos Estados Unidos. Suas posições políticas abrangem uma ampla gama de questões, e sua carreira no Congresso tem sido marcada por uma mistura de conservadorismo em assuntos de política externa, e de liberalismo, em questões domésticas e ambientais.

Menendez tem adotado uma abordagem notavelmente mais liberal em questões de cunho ambiental, trabalhista e de costumes. Ele apoiou o direito ao aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, emergindo como um dos principais defensores da reforma da imigração nos Estados Unidos.

Já em relação à política externa, Menendez se destaca por suas posturas geralmente conservadoras e por sua propensão a votar frequentemente ao lado dos republicanos. Ele defendeu a intervenção militar em países como Líbia e Síria, destacando-se como um defensor da ação internacional em resposta a crises. É um dos falcões do Senado, ao lado dos senadores republicanos Marco Rubio (R-FL) e Ted Cruz (R-TX).

Foi um feroz opositor da normalização das relações com Cuba, mantendo-se como um crítico do regime cubano mesmo após a política de aproximação adotada pelo governo Barack Obama. Sua posição em relação à Rússia também é notoriamente rígida, tendo apresentado projetos de lei destinados a impor sanções ao país. Também atua fortemente na criação de leis e sanções contra o governo da República Popular da China. Menendez é conhecido por seu apoio consistente à Armênia no conflito com o Azerbaijão e por sua oposição à venda de aeronaves americanas à Turquia. Sua influência e liderança em questões de política externa têm sido um componente significativo de sua carreira no Senado.

Em resumo, Bob Menendez é um político com uma carreira política abrangente e diversificada, cujas posições variaram de conservadoras em política externa a liberais em questões domésticas e ambientais. Suas posturas em questões internacionais específicas também desempenharam um papel crucial em sua trajetória política, destacando-o como uma figura influente no cenário político dos Estados Unidos.

Histórico de denúncias de corrupção

Em 2015, Bob Menendez foi indiciado por alegações de corrupção relacionadas a presentes de um doador político em troca de influência junto a várias agências governamentais. Ele negou qualquer irregularidade e se declarou inocente, continuando a exercer suas funções no Senado. Após um julgamento que terminou em anulação, o Departamento de Justiça anunciou que não buscaria novamente acusá-lo. No entanto, a Comissão de Ética do Senado emitiu uma advertência severa e exigiu o reembolso de presentes inadmissíveis.

A mais recente acusação contra Menendez surgiu no dia 22 de setembro. Conforme o Departamento de Justiça, o procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, Damian Williams, e James Smith, diretor assistente encarregado do escritório de campo de Nova York do Federal Bureau of Investigation (FBI), denunciaram Robert Menendez, sua esposa, Nadine Menendez, também conhecida como “Nadine Arslanian”, e três empresários de Nova Jersey – Wael Hana, também conhecido como “Will Hana”, José Uribe e Fred Daibes – de participarem de um esquema de suborno que dura anos. A acusação alega que Bob Menendez e sua esposa aceitaram centenas de milhares de dólares em subornos de Hana, Uribe e Daibes em troca da influência do senador e de sua posição oficial para protegê-los e enriquecê-los e para beneficiar o Governo do Egito. Entre outras coisas, Menendez concordou e procurou pressionar um alto funcionário do Departamento de Agricultura dos EUA em um esforço para proteger um monopólio comercial concedido à Hana pelo Egito, interromper um processo criminal iniciado pelo Gabinete do Procurador-Geral de Nova Jersey contra José Uribe e interromper um processo criminal federal movido pelo Ministério Público dos EUA para o Distrito de Nova Jersey contra Daibes.

As acusações contra Menendez são sérias e alegam que ele usou seu poderoso cargo como presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado para beneficiar o governo autoritário do Egito e interferir em um processo criminal em benefício de um amigo, em troca de favores pessoais. Os subornos incluíam uma variedade de itens, desde barras de ouro até um conversível Mercedes-Benz, equipamentos de exercício e uma quantia superior a meio milhão de dólares em dinheiro.

As implicações políticas desse escândalo são notáveis. Primeiramente, o senador Menendez viu-se forçado a renunciar à presidência do Comitê de Relações Exteriores do Senado, um golpe significativo em sua influência e capacidade de moldar a política externa dos EUA. Além disso, os apelos para sua renúncia ao Congresso aumentaram, vindos até mesmo de seu próprio partido, incluindo o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, e outros democratas proeminentes do estado. Isso lança uma sombra de incerteza sobre o futuro político de Menendez, especialmente considerando-se que ele enfrenta a reeleição no próximo ano.

O senador Cory Booker, figura influente no cenário político norte-americano, pediu a renúncia do cargo de senador de seu colega democrata de Nova Jersey. Isso encerrou os dias de silêncio após a acusação de suborno contra o sr. Menendez. Booker, que frequentemente descreveu Menendez como amigo, aliado e mentor, tomou a decisão de se juntar ao crescente coro de autoridades estaduais e federais, pedindo que Menendez renuncie.

Cory Booker | U.S. Senator Cory Booker speaking with attende… | Flickr(Arquivo) Senador Cory Booker discursa na Convenção da Federação do Trabalho de Iowa, promovida pelo AFL-CIO, em Altoona, Iowa, em 21 ago. 2019 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)

Essa ação demonstra a crise crescente enfrentada por Menendez, um senador que, até recentemente, ocupava uma das posições mais poderosas e seguras na política americana. As acusações de corrupção abalaram não apenas sua carreira, mas também tiveram um impacto significativo nas dinâmicas políticas em Nova Jersey e além.

Além disso, o escândalo Menendez ressalta a fragilidade das instituições políticas e a importância da ética na política. Políticos que enfrentam acusações de corrupção minam a confiança pública nas instituições democráticas e podem enfraquecer o sistema inteiramente. A crescente divisão no Partido Democrata em relação a Menendez também expõe as tensões internas e a luta pelo poder dentro do partido.

Menendez e as consequências para as próximas eleições e no governo Biden

Após a exposição do caso e o início das investigações, outros parlamentares democratas passaram a pedir à renúncia do senador Menendez, como a congressista Alexandria Ocasio Cortez e o senador John Fatterman, da Pensilvânia. Além deles, diversos outros democratas pediram sua saída do Senado americano. Além disso, Andy Kim, um congressista de Nova Jersey, anunciou que vai concorrer contra o atual senador na próxima eleição, caso ele permaneça no cargo. Contudo, como afirmou o próprio senador: “Não vou a lugar nenhum”.

Essa situação mostra que uma possível corrida eleitoral pode se firmar no estado de Nova Jersey, marcando um racha no Partido Democrata. Paralelamente, no entanto, o caso do senador vem recebendo comentários inesperados de alguns republicanos, muitos insinuando que não seriam os democratas que decidiriam sobre o futuro de Menendez, mas sim a corte e os eleitores de Nova Jersey. Entre os nomes, podem ser destacados Susan Collins (Maine), Marco Rubio (Flórida) e Kevin McCarthy, esse último remetendo ao caso de George Santos e dizendo que é de Menendez a “decisão do que fazer”.

O caso de George Santos, a atual investigação contra Menendez e os indiciamentos enfrentados pelo ex-presidente Donald Trump mostram como os dois grandes partidos dos Estados Unidos estão encarando os escândalos políticos atuais. Trump, candidato à presidência para 2024, mantém-se líder nas pesquisas eleitorais e recebe poucas críticas de seu partido relacionadas com suas condenações. George Santos, em contrapartida, recebeu muita pressão para renunciar, mas se manteve no cargo e agora seu caso é pouco discutido. Assim, Menendez entraria nessa situação como sinal de uma certa passividade para a permanência de políticos em seus cargos, mesmo que, diferentemente dos republicanos, os democratas estejam, em sua maioria, pedindo sua renúncia.

Outro ponto a ser analisado é a perda do governo Biden de um grande aliado referente à política externa. Menendez é um dos democratas mais influentes no Comitê para Relações Exteriores do Congresso, sendo uma figura fundamental e aliado na Casa Branca para a construção de ações mais agressivas contra Moscou, Havana, Pequim e também da manutenção da ajuda militar e econômica à Ucrânia. Portanto, frente às atuais críticas sobre a gestão do presidente e de sua política externa, seus opositores terão mais combustível para desgastar o impopular governo Biden. Adicionalmente, a fragilidade de Bob Menendez pode comprometer a atual e futura maioria do Partido Democrata no Senado.

As eleições de 2024 serão marcadas pelas trocas mútuas de acusações sobre corrupção. O destino do povo dos Estados Unidos parece que está mais próximo dos tribunais do que das urnas.

 

* Felipe Sodré FabriGabriel Carvalho Fogaça e Leonardo Martins de Assis são graduandos do curso de Relações Internacionais da Unesp e pesquisadores do Latino Observatory, sob coordenação e orientação de Marcos Cordeiro Pires e Thaís Lacerda. Contatos: felipe.sodre@unesp.brgc.focaca@unesp.br e lm.assis@unesp.br.

Marcos Cordeiro Pires é coordenador do Latino Observatory, professor de Economia Política Internacional (Unesp-Marília) e pesquisador do Instituto Nacional de Estudos dos Estados Unidos (INCT-INEU).  Contato: latinobservatory@latinobservatory.org.

** Publicado originalmente no site Latino Observatory, em 1º out. 2023. Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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