Política Doméstica

Primárias republicanas: apesar da ausência de Trump, oito pré-candidatos vão ao 1º debate

Crédito: Freepik

Por Haylana Burite* [Informe OPEU]

O primeiro debate aconteceu na quarta-feira (23/8), no centro de Milwaukee, em Wisconsin, e foi transmitido pela Fox News. O estado de Wisconsin é um dos mais competitivos do país, sendo, portanto, considerado um swing state. Dessa forma, o primeiro debate aconteceu em um dos locais que podem definir os resultados da eleição presidencial de 2024.

– Por que Trump não compareceu ao debate?

Segundo a BBC, a ausência do ex-presidente Donald Trump, favorito na disputa, significa um boicote ao evento. Nesse sentido, Trump ataca a Fox News, a rede que comandou o debate, ao divulgar entrevista com o ex-apresentador da Fox Tucker Carlson, ao mesmo tempo em que seus oponentes do Partido Republicano (GOP) sobem ao palco em Wisconsin. 

Há nisso uma tentativa ativa de reduzir a audiência desse primeiro debate das primárias, além de buscar manipular a capacidade dos demais candidatos de atraírem a atenção dos eleitores republicanos. Assim, a entrevista com Carlson, realizada no X (antigo Twitter), foi uma estratégia para diminuir a visibilidade dos pré-candidatos.

– Quem são os oito candidatos do Partido Republicano?

Em Milwaukee, estavam presentes o governador da Flórida, Ron DeSantis; o empresário filho de imigrantes indianos Vivek Ramaswamy; o ex-vice-presidente de Trump, Mike Pence; a ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora da ONU, Nikki Haley; o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie; o senador da Carolina do Sul, Tim Scott (R-SC); o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson; e o governador da Dakota do Norte, Doug Burgum.

De acordo com pesquisa The Washington Post/FiveThirtyEight/Ipsos (gráfico abaixo) feita nos dias 23 e 24 de agosto de 2023 com 775 potenciais eleitores republicanos nas primárias, ou caucuses, que assistiram ao debate, DeSantis (29%), Ramaswamy (26%) e Haley (15%) tiveram o melhor desempenho. Os resultados têm uma margem de erro de +/- 4 pontos percentuais.

 Fonte: The Washington Post.

– Balanço do debate 

  • Trump não recebe a atenção esperada

Um dos moderadores brincou que Donald Trump seria o maior destaque no debate. Seu nome foi, no entanto, pouco citado. Destaca-se o momento em que os oito pré-candidatos foram questionados se apoiariam Trump na corrida presidencial, caso ele fosse condenado por um crime. Como resposta final, seis dos participantes levantaram a mão.  

  • Vivek Ramaswamy é alvo de questionamentos

Sem nunca ter ocupado um cargo na política, Ramaswamy foi duramente criticado por Mike Pence e por Chris Christie, que afirmaram que os Estados Unidos precisam de alguém com experiência. Nikki Haley criticou a visão de Ramaswamy sobre a política externa estadunidense, juntamente com o ex-vice-presidente Pence. 

Nas palavras de Pence: “Agora não é hora para treino prático […] Não precisamos contratar um novato. Não precisamos contratar pessoas sem experiência”. Já Christie fez críticas em tom de zombaria, afirmando que o candidato Ramaswamy se expressa “como o ChatGPT”. 

Dentre os comentários, as críticas mais duras foram de Harley e Pence. A ex-governadora questionou o ceticismo do candidato em relação à Guerra na Ucrânia e seu apoio mais direcionado a Israel. Em consonância, Pence demonstrou as incongruências na política externa isolacionista traçada por Ramaswamy, afirmando que “qualquer pessoa que pense que não podemos resolver os problemas aqui nos Estados Unidos e ser o líder do mundo livre tem uma visão muito pequena da maior nação da Terra”. 

Apesar da tensão envolvendo Ramaswamy, isso apenas chamou atenção para o candidato que teve o segundo maior tempo de fala, atrás somente de Pence.

  • Nikki Haley lidera debate sobre aborto e destaca que é a única mulher no debate 

Haley criticou Ramaswamy – pela indelicadeza e pela quebra da tradição do Partido Republicano – ao tentar monopolizar os temas mais quentes do debate. No meio dessas disputas, Haley chamou atenção para um detalhe: ela era a única mulher. Conforme Haley, “foi exatamente por isso que Margaret Thatcher disse: ‘Se você quer que algo seja dito, pergunte a um homem. Se você quer que algo seja feito, pergunte a uma mulher’”. 

O que é digno de nota é que Haley dominou o debate e abordou a discussão sensível sobre a política de legalização do aborto para o GOP. Em suas palavras: “Não podemos todos concordar que devemos proibir os abortos tardios? Não podemos todos concordar que devemos encorajar as adoções? Não podemos todos concordar que médicos e enfermeiros que não acreditam no aborto não deveriam ter que realizar? Não podemos todos concordar que a contracepção deveria estar disponível? E não podemos todos concordar que não vamos colocar uma mulher na prisão, ou dar-lhe a pena de morte, se ela fizer um aborto? Vamos tratar o aborto como uma questão de respeito, como ele é”.

Como resultado, Haley cresceu nas pesquisas sobre as primárias, passando de 29% para 46% eleitores republicanos que consideram votar nela. 

  • Candidatos parecem desconfortáveis com questionamento sobre a postura de Mike Pence no ataque ao Capitólio

Os moderadores pediram que os pré-candidatos que concordam com a postura de Mike Pence em não anular a eleição presidencial de 2020 na qual o democrata Joe Biden foi eleito levantassem as mãos. DeSantis interveio para evitar que os demais se pronunciassem, ainda que, verbalmente, muitos tenham demonstrado concordar que Pence estava cumprindo seu dever constitucional de defender a democracia dos Estados Unidos.

  • Dentre os tópicos principais, houve divergências sobre a Ucrânia e um dissenso sobre a questão do aborto

A maioria dos pré-candidatos defendeu o apoio dos Estados Unidos a Kiev na guerra russo-ucraniana, enquanto DeSantis se mostrou mais entusiasta em garantir que a Europa aumente sua parte no apoio. Em contraste com os outros pré-candidatos, apenas Ramaswamy disse que não apoiaria mais a ajuda à Ucrânia.

Sobre o aborto, Haley não quis dizer que tipo de cronograma de restrições ela apoiaria, mas criticou uma proibição federal. Já Burgum afirmou que não assinaria uma proibição nacional, ainda que tenha sancionado uma lei de proibição de seis semanas na Dakota do Norte. Pence e Scott apoiam, por sua vez, uma restrição federal mínima, com Scott defendendo um limite nacional de 15 semanas.

 

* Haylana Burite é pesquisadora bolsista de Iniciação Científica INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq) e graduanda em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). Contato: buritehaylana@gmail.com.

** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 27 ago. 2023. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

*** Para mais informações e outras solicitações, favor entrar em contato com a assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti, tcarlotti@gmail.com.

 

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