Chamada para publicação

Chamada para publicação no OPEU em fluxo contínuo: Dossiê ‘Distopias e Trump 2.0’

Crédito da arte: Luísa Azevedo/OPEU

Por Tatiana Teixeira* [Divulgação] [Chamada para publicação] [Dossiê] [Distopias e Trump 2.0]

Amazon.com: O Conto da Aia (Em Portuguese do Brasil): 9788532520661: Margaret Atwood, Ana Deiró: ספריםLogo em seguida ao anúncio da vitória de Donald Trump em novembro de 2024, as vendas de livros distópicos dispararam. Em apenas dois dias após o resultado eleitoral, The Handmaid’s Tale (O conto da Aia, Rocco, 2017), de Margaret Atwood, avançou 400 posições até chegar ao terceiro lugar na lista de best sellers do site da Amazon nos Estados Unidos. Também catapultados pelo “efeito Trump”, 1984 (Cia das Letras, 2009), de George Orwell, e Fahrenheit 451 (Globo/Biblioteca Azul, 2003), de Ray Bradbury, ficaram entre os top 40. 

O mesmo havia acontecido em 2016, na esteira de sua primeira vitória à Presidência dos Estados Unidos. Além dos já citados, também foram redescobertos clássicos como Animal Farm (A revolução dos bichos, Cia das Letras, 2007), de Orwell; Brave New World (Admirável mundo novo, Globo, 2014), de Aldous Huxley; ou It Can’t Happen Here (Não vai acontecer aqui, Cia das Letras, 2017), de Sinclair Lewis. A procura foi tamanha que vários desses títulos se esgotaram nas livrarias, e novas tiragens foram feitas no início de 2017. 1984, por exemplo, teve um aumento de 9.500% nas vendas apenas no primeiro mês de governo, segundo reportagem do jornal The New York Times. 

À época, nas universidades, cursos de literatura, de inglês e de outras disciplinas incluíram esses autores em seus programas para atender à demanda dos alunos. O gênero ressurgiu com força, como uma ferramenta para ajudar a acompanhar e a entender melhor os “fatos alternativos”, a retórica carregada de Donald Trump, seus discursos sombrios, a linguagem inflamada e suas políticas divisivas e autoritárias – entre elas, a separação de pais e filhos imigrantes que deixou inúmeras crianças sozinhas, abandonadas em celas de centros migratórios. 

Nesse gênero literário, narrativas ficcionais retratam sociedades de um futuro nem sempre tão distante, mas sempre apocalíptico e antiutópico, mergulhadas na opressão, em condições permanentes de censura, tensão, conflito e medo. O paraíso perdido que não existe mais. Um ambiente inóspito que nos torna inumanos. Nelas, viver pode beirar o insuportável, em meio à falta de liberdades, aos recursos rarefeitos e às limitações de toda ordem. Seja por regimes políticos ditatoriais, seja pelo avanço e pelo uso desmedido da tecnologia, seja por cataclismas, epidemias ou catástrofes naturais, esses livros nos mostram mundos que, em busca de uma prometida perfeição, ficaram marcados pela desigualdade brutal, pela naturalização dos absurdos, pela ameaça existencial constante, pela rigidez e pelo controle social e político.  

São histórias que nos servem de alerta sobre as potenciais consequências de fazermos esta ou aquela escolha no presente, tanto no plano individual quanto coletivamente. Advertem-nos sobre o futuro que poderá ser determinado, com base nos caminhos seguidos pela humanidade – sobretudo, se insistirmos em ignorar, repetidamente, as tragédias e as farsas da história. Às vezes, olhar para o passado pode ser insuficiente. Na tarefa corajosa e, ao mesmo tempo, assustadora de imaginar o futuro, seus autores hiperbolizam as agruras da realidade conhecida. Abundam figuras de linguagem, que nos trazem personificação, analogias preocupantes, metáforas de semelhança assombrosamente familiar, ambientes sinestésicos e exageros. Uma narrativa brutal, sem eufemismos. 

1984 summaryCrédito da imagem: Story Shots

É em momentos de crise, de cenários de difícil compreensão, ou de escalada de diferentes modalidades de constrangimentos a direitos e garantias fundamentais, que essa literatura recupera seu protagonismo. E cada leitor irá usá-la com diferentes propósitos. Para alguns, será o escapismo acolhedor e reconfortante, quando a realidade parece estar indo longe demais. Outros recorrerão a essa escrita na tentativa de se antecipar ao pior, buscando estratégias de luta e formas de organização, ou modos de fuga e de sobrevivência. O tema de inquietação maior pode estar relacionado aos direitos das mulheres (reprodutivos e em geral), a questões de gênero e identidade, à supressão de liberdades (expressão, reunião, religião, viver sem necessidade e sem medo), ao sentimento de impotência ou ao temor de acordar, a cada dia, com o sobressalto de manchetes kafkianas nos jornais. 

A ideia para este dossiê surgiu, primeiramente, da seguinte indagação: até onde se é preciso chegar, como sociedade, para podermos afirmar que estamos em um cenário distópico? Desse ponto de partida, vieram, então, novas questões mobilizadoras. É necessária a percepção de uma maioria, ou bastam a denúncia e o sofrimento de grupos específicos? É possível encontrar correspondência entre eventos, discursos e políticas deste segundo mandato de Donald Trump e as alegorias distópicas? E, se assim for, quais medidas e momentos se encaixariam nessa categoria? Como essas mudanças afetam a identidade e o excepcionalismo americanos? De que maneira a cultura – em suas plurais formas de expressão, como literatura, cinema, séries de plataformas de streaming, manifestações artísticas, música e muitas outras – pode nos guiar, fortalecer e nos ajudar a ler o presente para transformá-lo?

Este dossiê está em busca de respostas, ou, quem sabe, até mesmo de perguntas melhores. 

*** 

Como sempre, encorajo (fortemente) o envio de textos objetivos, de escrita e conteúdo claros e acessíveis para um público heterogêneo, e não apenas acadêmico. Também dou preferência a textos que não sejam meramente descritivos. Informação com análise interessa mais aos nossos leitores. 

O ideal é que o artigo seja curto (até 5 páginas), com as referências na forma de link no próprio texto, e não no formato acadêmico “autor-data”. Devem constar no texto: Título, autoria(s), entretítulos, minibio do(a) autor(a), e-mail, ou rede para contato. Recomendo a leitura de informes já publicados para conhecer o estilo do OPEU.  Para facilitar, incluo a template abaixo, com orientações aos autores:

Template_Informe_OPEU_versão_2025

Os textos devem ser enviados para o e-mail: equipeopeu@gmail.com

E, apenas para lembrar: esse dossiê ficará aberto, em fluxo contínuo. Qualquer dúvida, escreva-nos. 

Espero vocês!

 

* Tatiana Teixeira é editora-chefe do OPEU.

** Primeira revisão: Victória Louise Quito. Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

*** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora Tatiana Teixeira, no e-mailtatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mailtcarlotti@gmail.com.

 

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