O que resta do Partido Republicano?

Crédito: Michael Vadon (CC BY-SA)
Por Vitor Marques Mariano dos Santos* [Informe OPEU] [Partido Republicano] [Política Doméstica]
A eleição de Donald Trump em 2024 representou um marco importante para o Partido Republicano (GOP), solidificando o trumpismo como a ideologia dominante e redefinindo os parâmetros da política americana. E esse triunfo também deixou questões fundamentais sobre a identidade do partido e os rumos de sua liderança.
O retorno de Trump ao poder representou a cristalização de uma época em que o trumpismo se sobrepõe aos princípios tradicionais do Partido Republicano.
Durante décadas, o GOP foi conhecido por sua defesa do conservadorismo e do livre-mercado. Atualmente, esses pilares foram substituídos por uma plataforma centrada em um populismo nacionalista, priorizando o nacionalismo econômico e cultural; antiglobalismo, a rejeição a alianças multilaterais e desconfiança em relação a organizações internacionais; e a forte centralização na figura de Donald Trump.
De acordo com a revista The Atlantic, o GOP atual não é mais um partido de coalizão ideológica, mas um movimento com foco em um líder carismático. Isso tem implicado uma reorganização interna e externa, na qual a sobrevivência política está diretamente ligada à adesão ao trumpismo.
Embora a influência do trumpismo domine, ainda existem figuras no GOP que não se alinham completamente a essa ideologia. Esses dissidentes enfrentam crescentes dificuldades em manter relevância dentro do partido. Figuras como Mitt Romney, Liz Cheney (antes de deixar o Congresso) e outros republicanos moderados se tornaram vozes isoladas no atual GOP.
O perfil dos políticos republicanos nesse grupo é pragmático na defesa dos compromissos bipartidários em questões como orçamento e infraestrutura. Seus representantes também podem ter mais moderação social em temas como aborto e imigração e estarem isolados politicamente, enfrentando com frequência desafios de primárias provocados por aliados de Trump, o que limita sua sobrevivência eleitoral.
De acordo com um levantamento feito pelo site POLITICO, menos de 15% dos membros republicanos no Senado e na Câmara em 2024 poderiam ser considerados não trumpistas.
A composição do Congresso: trumpismo dominante
Senado
No Senado, o GOP manteve uma maioria apertada. Sua composição é predominantemente trumpista, com poucos senadores dispostos a desafiar diretamente o governo Trump. Figuras como Susan Collins, do Maine (R-ME), e Lisa Murkowski, do Alasca (R-AL), representam uma ala mais moderada, mas sua influência é limitada. Ambas enfrentam pressões de colegas e de suas bases estaduais para aderirem à linha trumpista.
(Arquivo) As senadoras Susan Collins e Lisa Murkowski (Crédito: gabinete da senadora Lisa Murkowski/Wikimedia Commons)
Câmara dos Representantes
Na Câmara, a situação é mais eloquente, pois apoiadores mais fervorosos de Donald Trump contemplam suas trincheiras, como Mike Johnson, de Louisiana (R-LA) e Marjorie Taylor Greene, da Geórgia (R-GA).
As raras exceções incluem legisladores de distritos suburbanos que ainda dependem do voto de eleitores moderados. Esses representantes caminham em uma corda bamba, equilibrando suas lealdades partidárias e a necessidade de atender às demandas de seus eleitores.
Entre os principais nomes, encontram-se os congressistas Brian Fitzpatrick, da Pensilvânia (R-PA), conhecido por sua abordagem bipartidária e Don Bacon, de Nebraska (R-NE), representante de um distrito mais moderado que evita ataques diretos a Trump, mas também não abraça completamente o trumpismo.
O futuro do GOP
Com a consolidação do trumpismo, as opções para o GOP são, por enquanto, limitadas. O partido enfrenta alguns cenários possíveis. Seguindo na via atual dos fatos, o GOP se torna irreversivelmente identificado com o trumpismo, abrindo mão do apelo para eleitores moderados, independentes e minorias não identificadas com o partido. Com isso, é possível antecipar uma limitação do partido e de sua base em estados mais diversificados. Se alguma ruptura inicial tomar proporções maiores, pode ocorrer uma fragmentação interna dentro do GOP, dividindo-o em alas trumpistas e alas não trumpistas. E, se rupturas avançarem, bem como a oposição a Trump, o GOP pode passar por uma reforma gradual, com velhas ou novas lideranças, procurando se distanciar de Trump. Isso pode acontecer, principalmente, se o presidente não obtiver bons números na aprovação popular, sobretudo, em relação às medidas socioeconômicas.
* Vitor Marques Mariano dos Santos é graduando de Relações Internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e aluno participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: LinkedIn.
** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Recebido em 18 dez. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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