Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 10 a 16 out. 2021)

Bolsonaro autoriza instalação temporária de 240 militares americanos no país (Crédito: Artur Widak/Nurphoto/AFP)

Resumo da Semana OPEU n 4 Out 2021 (versão sem imagens)

Por Equipe Opeu

África, por Eduardo Mangueira

No dia 14, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu seu homólogo queniano, Uhuru Kenyatta, na Casa Branca. A visita marcou o primeiro encontro de Biden, na atual posição, com um presidente africano. Kenyatta aparece nos “Pandora Papers” como um dos líderes mundiais que teriam dinheiro em empresas offshore. No encontro, Biden anunciou a doação de vacinas adicionais para o Quênia, além da doação de 17 milhões da vacina anticovid-19 da Johnson & Johnson para a União Africana, como parte de seu projeto para alcançar o número de 500 milhões de vacinas doadas. No mesmo dia, os Estados Unidos doaram mais de 3 milhões de vacinas para a Nigéria. Até o momento, o país mais populoso da África vacinou apenas 4,7% de sua população pelo menos uma vez.

Biden Meets With Kenya's President Amid Crisis in Ethiopia - The New York TimesBiden e Kenyatta, na Casa Branca (CréditoDoug Mills/The New York Times)

América Latina, por Nathan Oliveira

O presidente Jair Bolsonaro autorizou, por meio de decreto publicado no Diário Oficial da União na quinta-feira (14), a instalação temporária de militares americanos em território nacional para participarem de exercício juntamente com o Exército brasileiro. O contingente de 240 militares terá permissão para ficar no Brasil de 28 de novembro a 18 de dezembro deste ano. Ambas as equipes participarão da edição 2021 das chamadas Operações Combinadas e Exercícios de Rotação (“Combined Operations and Rotation Exercises”, ou Core). Trata-se de um tipo de treinamento militar concebido durante conferência bilateral de Estado-Maior Brasil-EUA, realizada em outubro de 2020, “com o objetivo de incrementar a interoperabilidade entre os dois exércitos”.

Enquanto isso, no mesmo dia, 63 congressistas dos EUA enviaram uma carta ao presidente Joe Biden, pedindo-lhe que desconsiderasse a oferta feita ao Brasil para se tornar um parceiro global da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN). Os congressistas demandaram, ainda, que Biden revogue a condição de aliado extra-OTAN concedida ao Brasil durante a administração de Donald Trump. O pedido surge após preocupações dos congressistas com fortalecer o Exército brasileiro, que, nas palavras do veterano Hank Jonson (D-GA), “poderia ser usado para um golpe militar”.

Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt

Em entrevista coletiva no dia 12, o secretário de Imprensa do Pentágono, John Kirby, falou sobre as manobras militares feitas pela China nas proximidades de Taiwan. Mais de 100 aeronaves chinesas se deslocaram de maneira “provocadora” em direção à ilha, no Leste Asiático. Segundo Kirby, o ocorrido serve para criar um clima de incerteza em uma parte do mundo, onde os EUA procuram “estabilidade e paz”. Ainda de acordo com o porta-voz, “a RPC [República Popular da China] intensificou os esforços para intimidar e pressionar Taiwan e outros aliados e parceiros, incluindo o aumento de suas atividades militares realizadas nas proximidades de Taiwan, no Mar da China Oriental e no Mar do Sul da China, que acreditamos estar desestabilizando e apenas aumentando o risco de erro de cálculo”. Ele disse ainda que Washington continuará comprometida com manter a região pacífica e garantir que Taiwan seja capaz de se defender sozinha. Ao finalizar, pediu que “Pequim cesse essa pressão militar, diplomática e econômica, e a coerção contra (…) Taiwan”.

Ainda na terça, o secretário para Políticas de Defesa, Dr. Colin Kahl, reuniu-se com o secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil, almirante Flávio Augusto Viana, no Pentágono. O motivo alegado foi reafirmar a importância da relação de defesa Brasil-EUA e fortalecer a parceria bilateral, enfatizando os valores compartilhados entre as nações e o compromisso com a cooperação baseada na “democracia e nos direitos humanos”. Também foram discutidos assuntos como a segurança regional, a resposta à pandemia da covid-19, além das preocupações de ambos com a defesa mútua nos domínios marítimo, cibernético e espacial.

Por fim, na próxima semana, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, viaja para a Europa, com visitas programadas, por exemplo, a Geórgia, Ucrânia e Romênia. Sua presença também foi confirmada na reunião ministerial de Defesa da OTAN, que acontece na Bélgica.

Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares

O presidente Biden anunciou, na quarta-feira (13), um novo plano para manter o porto de Los Angeles – um importante porto dos EUA – aberto “24 horas por dia, sete dias por semana”. A medida conta com o apoio da iniciativa privada e busca aliviar a sobrecarga enfrentada na cadeia de abastecimento. Dezenas de navios porta-contêineres permanecem ancorados na costa do sul da Califórnia, e alguns chegam a esperar semanas por um cais de desembarque. Docas, pátios ferroviários e armazéns estão lotados de mercadorias. Funcionários do governo prometem uma “corrida de 90 dias” para resolver o problema. Biden defendeu que a medida tem “o potencial de ser uma virada de jogo”, ao desobstruir as linhas de abastecimento do país. Este nó é apontado por especialistas como um dos obstáculos para uma recuperação da economia dos EUA de forma mais rápida.

Nouvelles américaines - Nouvelles interditesPorto de Crédito: Dean Musgrove/The Orange County Register, via Associated Press)

O setor imobiliário norte-americano tem apresentado tendência inflacionária. O aumento dos preços dos aluguéis nos EUA decorre da falta de casas à venda para atender ao aumento da demanda por novas residências durante a pandemia. Após a crise imobiliária (2007-2008), o setor de construção civil diminuiu o ritmo de construção de novas casas a um nível que se mostra insuficiente. E situação foi agravada pelos problemas gerados pela pandemia para a construção de novas casas.

À medida que o número de compradores aumentou, os preços para a venda de casas também subiram. Com isso, muitas pessoas se viram incapazes de comprar imóveis, levando também ao aumento da busca por aluguel de apartamentos e de casas. O setor de aluguel de imóveis, por sua vez, experimentou maior demanda por lugares com mais espaço e escritórios domésticos durante a pandemia, bem como a busca por mais autonomia da geração “millennial”. Tal conjuntura levou ao aumento dos preços dos aluguéis. Entre agosto e setembro de 2021, o crescimento foi de 0,5%, o maior em quase 20 anos. O aluguel médio nacional aumentou 16,4% desde janeiro com o crescimento mensal desacelerando ligeiramente em relação ao pico de julho, segundo relatório de setembro do Apartment List – mercado online de aluguel de imóveis.

A questão requer atenção, porque os preços de moradia tendem a subir lentamente e, uma vez que sobem, permanecem altos por algum tempo. Os valores pagos em aluguéis podem influenciar as expectativas da população sobre aumentos de preços no futuro. Desse modo, ao vislumbrar uma rápida inflação, os trabalhadores podem reivindicar salários mais altos para cobrir suas despesas crescentes e, uma vez atendidos, as empresas podem repassar esse aumento para os preços. Tal cenário poderia levar o Banco Central dos EUA (Fed, na sigla em inglês) a aumentar a taxa básica de juros para controlar a inflação. A medida poderia desacelerar o mercado de trabalho que conta hoje com cerca de cinco milhões de empregos a menos em relação ao período anterior à pandemia.

Energia, por Victor Hugo de Oliveira Souza

Um estudo divulgado pelo principal canal de comunicação da Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês) afirma que recursos energéticos provenientes de matrizes como solar e eólica serão os que mais contribuirão para o crescimento da geração elétrica até 2050. O carvão ainda responderá, no entanto, por parte relevante da fonte de energia produzida a fim de gerar eletricidade. Grande parte da energia à base de carvão não provém de mecanismos muito eficientes, se comparados, por exemplo, com a geração por gás natural, o que torna o gás uma opção mais rentável, ainda que o preço seja mais elevado. Segundo o estudo, porém, com o aumento no preço do gás após 2030 e com a regulação menos intensa em relação ao carbono, o preço do carvão – invertendo a tendência – será mantido em patamares mais baixos, se comparado ao gás, mostrando-se mais competitivo.

Migração, por Diana Obermuller

No dia 12, o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, instruiu as autoridades de imigração a pararem com as prisões em massa de imigrantes sem documentos em seus locais de trabalho. De acordo com a nova diretriz, a prioridade será fiscalizar os empregadores que exploram imigrantes não autorizados. Mayorkas afirmou que as políticas para a implementação desta mudança deverão ser desenvolvidas nos próximos 60 dias. A medida faz parte das tentativas do governo Biden de restringir os critérios de quem pode ser detido pelas autoridades migratórias. No mês passado, o governo anunciou novas diretrizes para priorizar ações contra imigrantes que representem uma “ameaça à segurança nacional e pública”, ou que tenham cruzado a fronteira recentemente.

Over 4,000 migrants, many kids, crowded into Texas facility | PBS NewsHourEra Biden: jovens migrantes em condição ilegal retidos na instalação da Alfândega e Proteção de Fronteira (CBP, na sigla em inglês), principal centro de detenção para menores desacompanhados no vale do Rio Grande, em Donna, Texas, em 30 mar. 2021 (Crédito: Dario Lopez-Mills/Pool via Reuters)

Oriente Médio, por Luísa Azevedo e Rafael Seabra

Na terça (12/10), o presidente Joe Biden se encontrou com os líderes dos países do G20, grupo das maiores economias mundiais, para discutir a crise humanitária no Afeganistão. Essa é a primeira reunião do grupo desde que os talibãs retomaram o poder, em 15 de agosto, e desde a subsequente retirada das tropas americanas e aliadas. Os líderes discutiram “a manutenção do esforço de contraterrorismo para o Afeganistão e a manutenção de passagem segura de nacionais estrangeiros e afegãos documentados, querendo deixar o país”. Anterior ao encontro formal em 30 de outubro, esta reunião emergencial foi pedida pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, considerada por ele um indicador da “volta do multilateralismo, com dificuldades”. Essas dificuldades se referem à ausência dos líderes de Rússia e China, tendo em vista posições divergentes quanto à situação no Afeganistão.

Na quarta-feira, dia 13, Estados Unidos e Israel endureceram a retórica contra o Irã. Autoridades americanas afirmaram que todas as opções serão consideradas, caso Teerã não renove o acordo nuclear de 2015. Israel afirma, por sua vez, que se reserva o direito de agir. As ameaças se dão em um contexto de recusa do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, de retomar conversas indiretas com os EUA em Viena. As negociações envolvem o retorno de EUA e Irã aos termos do acordo, pelo qual este conteria seu programa nuclear em troca de alívio nas sanções econômicas. Cabe lembrar que os EUA abandonaram o acordo em 2018, de forma unilateral, durante o governo Donald Trump.

Política Doméstica, por Augusto Scapini e Rafael Seabra

Em 14 de outubro, o Comitê da Câmara de Representantes responsável pela investigação da invasão ao Capitólio, ocorrida em janeiro deste ano, anunciou que votará na semana seguinte se recomendará acusações criminais de desacato contra Steve Bannon, ex-conselheiro sênior de Trump, depois que ele se recusou a cooperar com a investigação. No dia 13, o Comitê já havia intimado Jeffrey Clark, agora ex-funcionário do Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês), após ouvir o testemunho privado do ex-procurador-geral Jeffrey Rosen. Ambos haviam sido mencionados em um relatório publicado pelo Senado que investigou os esforços de Trump em pressionar o DOJ a procurar casos de fraude eleitoral. Em um pronunciamento público, no dia 15, o presidente Joe Biden apoiou as ações do Comitê, concordando que os indivíduos que não obedeceram às intimações devem ser processados pelo DOJ.

No dia 15, Trump publicou um pronunciamento, alegando a existência de “votos fictícios” no condado de Pima, no estado do Arizona, mesmo após a realização de uma auditoria oficial que reafirmou a vitória local de Biden. No pronunciamento, o ex-presidente defendeu que uma nova eleição deveria ser conduzida, ou a eleição passada deveria ser desconsiderada. O administrador do condado de Pima, Chuck Huckelberry, respondeu às alegações, ressaltando que as eleições ocorreram de forma justa e que os resultados foram confirmados pela auditoria. Sobre os esforços de Trump em tentar subverter os resultados das eleições de 2020, o governador do Arkansas, o republicano Asa Hutchinson (R-AR), afirmou que são uma “receita para o desastre em 2022”, alegando que as energias deveriam estar concentradas nisso.

Pesquisas apontam para declínio de cerca de 15 pontos na média de aprovação de Biden desde junho passado. Isso seria resultado de uma conjunção de fatores que incluem a pandemia, a caótica retirada de tropas do Afeganistão e o tratamento desumano de migrantes haitianos na fronteira entre EUA e México. Conforme avaliação feita por meio de grupo focal (um método de pesquisa qualitativa) na Pensilvânia, a continuidade da pandemia e as muitas formas pelas quais ela impede o retorno à vida normal estão afetando as visões sobre o governo. Dificuldades para adquirir bens, como automóveis, em função de problemas nas cadeias de suprimentos também tiveram impacto, do mesmo modo que restaurantes com poucos funcionários. Ainda assim, membros do governo defendem que o pior da pandemia está retrocedendo, graças às ações de Biden. Destacam, ainda, pesquisas que demonstram apoio à agenda legislativa do presidente, ancorada na infraestrutura física e social e em pacotes de gastos voltados para o clima, dedicados a promoção de energia limpa, desenvolvimento sustentável e empregos verdes.

Sociedade, por Diana Obermuller e Rafael Seabra

No dia 13, o Departamento de Justiça anunciou uma investigação sobre as instituições para menores infratores no estado do Texas, que deverá averiguar as alegações de violência física, abuso sexual e outros maus-tratos a crianças detidas. Segundo a representante da Divisão de Direitos Civis do departamento, Kristen Clarke, a investigação se dá após a prisão e a acusação de 11 funcionários por abuso sexual. O caso faz parte do esforço para reformar o sistema de justiça criminal, incluindo outras investigações recentes em instituições correcionais de adultos na Geórgia e em Nova Jersey.

A Southwest Airlines e a American Airlines, ambas localizadas no Texas, vão exigir o esquema de vacinação completa de seus trabalhadores. A ação ocorre a despeito do decreto sancionado pelo governador Greg Abbott (R-TX), banindo mandatos de vacina para companhias privadas. As empresas afirmam que a ação federal relacionada a esta questão se sobrepõe a qualquer mandato, ou lei estadual, correlatos.

 

 

Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

 

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