Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 2 a 7 ago. 2021)

Jake Sullivan (à dir.) com o ministro da Defesa, Braga Netto, em Brasília (Crédito: Adriano Machado/Reuters)

Por Equipe Opeu*

América Latina

O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, visitou o Brasil esta semana e se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com outros membros do governo, como o ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto. Entre os assuntos na agenda da visita, encontra-se um debate sobre democracia e segurança regional, mudanças climáticas e cooperação no combate à covid-19. Desde a posse de Joe Biden, em 20 de janeiro deste ano, essa foi a primeira vez que um membro do alto escalão de sua administração visita o país sul-americano. Sullivan também se encontrou com alguns governadores do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins) para discutir planos e estratégias de combate às mudanças climáticas na região, desmatamento e mineração ilegal, além da proteção dos povos nativos brasileiros. A equipe do conselheiro de Segurança Nacional também conversou com representantes de empresas e de agências brasileiras de tecnologia para discutir o uso do 5G no Brasil.

Defesa e Segurança

Em 2 de agosto, segunda-feira, o Ministério da Defesa da Índia anunciou que está enviando uma força-tarefa composta por quatro navios de guerra para o Mar do Sul da China. Estão previstos dois meses de exercícios militares com forças americanas, japonesas e australianas. Dois dias depois (4), os Estados Unidos reforçaram que continuarão a operar no Mar do Sul da China para garantir “a prosperidade para todos”. O almirante da Marinha John C. Aquilino ressaltou que há muitas preocupações que afetam o Comando dos EUA na região do Indo-Pacífico (Indo-Pacom), uma vez que as declarações de Pequim não correspondem às ações praticadas. Nesse sentido, alertou que o Indo-Pacom mantém-se atento à fronteira da Índia e à “reivindicação ilegal” da China que afeta todos os países da região, referindo-se ao acesso a recursos naturais.

O professor José Luís Fiori situa Taiwan como uma peça central das tensões da “nova ordem mundial sino-americana”. Para Fiori, a retirada do Afeganistão deixa um vácuo de poder, provocando grande turbulência “na costa da China”. A disputa se dá, no entanto, do outro lado da China, conforme os Estados Unidos seguem direcionando sua Grande Estratégia para o Pacífico e para a Ásia. Em sua leitura, a decisão chinesa de construir um poder naval autônomo – efetivada a partir da primeira metade do século XXI – teria sido decisiva para a mudança na estratégia estadunidense. Tal como Berlim durante a Guerra Fria, as consequências catastróficas de um enfrentamento direto entre as potências em Taiwan deverão, segundo ele, definir os “protocolos básicos” da nova ordem internacional.

Economia e Finanças

Diante da perspectiva do pacote trilionário de infraestrutura a ser ainda votado pelo Senado, aproximadamente duas mil companhias começaram a realizar grandes esforços de lobby. A proposta pode ser aproveitada de diversas formas pelas empresas, como para a construção de pontes, recuperação e conservação de estradas, pontos de melhoria de conexão à Internet, entre outros. As organizações, que vão de gigantes do setor energético e da agricultura até pequenos negócios operando em pequenas cidades, estão trabalhando em conjunto para garantir a modelagem do pacote. Até o momento, mais de US$ 426 milhões já foram investidos coletivamente no projeto.

The bipartisan group of Senate negotiators speak to reporters. From left: Rep. Kevin Cramer, Sen. Bill Cassidy, Sen. Lisa Murkowski, Sen. Susan Collins, Sen. Rob Portman, Sen. Kyrsten Sinema, Sen. Joe Manchin, Sen. Jeanne Shaheen, Sen. Mark Warner and Sen. Mitt Romney.

Entrevista coletiva com membros do grupo bipartidário de negociação no Senado do plano de infraestrutura, em Washington, D.C. (Crédito: J. Scott Applewhite/AP)

Ao mesmo tempo, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO, na sigla em inglês), o pacote de infraestrutura poderia aumentar o déficit público em US$ 256 bilhões. Essa informação, liberada pelo CBO no dia 5, que supõe impacto no orçamento entre 2021 e 2031, vai de encontro à hipótese de que a medida se pagaria por si própria. Analistas independentes afirmam que a legislação não teria efeito significativo no crescimento econômico até 2050, ao contrário da estimativa do autor da proposta, para quem geraria US$ 56 bilhões em receitas. O debate sobre o déficit se torna mais polarizado, tendo em vista a resistência de republicanos a aceitarem o aumento de impostos. Em resposta, o governo Biden diz que, por conta das baixas taxas de juros, a carga deficitária é manejável.

Na carta enviada pelo senador Joe Manchin (D-WV) ao presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Jerome Powell, em 5 de agosto, o tom é de alarme pelas taxas de inflação do mês. De acordo com o senador, os diversos estímulos à economia americana colocam o atual crescimento econômico em risco. Além disso, ele acredita que sejam inadequados ao momento e podem resultar na alta da inflação, se não pausados a tempo. Economistas e o Fed acreditam, entretanto, que a inflação é temporária, de modo que diminuirá junto com o fim da pandemia.

Oriente Médio

Em declarações no dia 2, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, culpou a rápida retirada das tropas americanas pelo agravamento da violência em seu país. “Um processo de paz importado e apressado [..] não só falhou em trazer paz, mas criou dúvida e ambiguidade”, disse ele ao Parlamento afegão. Após quase 20 anos de permanência, a saída das tropas estrangeiras sob liderança americana deflagrou a intensificação de combates no território, desde seu anúncio, em maio passado. Ciente do avanço dos talibãs, a prioridade do chefe de Estado está em proteger as capitais provinciais e as grandes áreas urbanas. O alvo de preocupação por parte do Executivo afegão é a perda da província de Helmand, que foi, durante anos, a peça central na campanha dos Estados Unidos e do Reino Unido neste território.

Política Doméstica

No dia 3, o escritório da Procuradoria Geral de Nova York concluiu sua investigação contra o governador do estado, Andrew Cuomo (D-NY), acusando-o de assediar sexualmente 11 mulheres. Desde então, políticos de ambos os partidos, incluindo o presidente Joe Biden, já pediram a resignação do governador, que continua a negar as acusações. No dia 5, o Comitê Judiciário da Assembleia de Nova York que, em março, havia iniciado as investigações para o processo de impeachment, deu ao governador o prazo de uma semana para apresentar evidências de sua inocência. Caso Cuomo falhe em apresentá-las, o processo de impeachment será iniciado.

New York Gov. Andrew Cuomo, D. has denied allegations of harassment detailed in a report from the state attorney general. Washington Post photo by Salwan Georges
Aumenta pressão pela renúncia do governador de Nova York, Andrew Cuomo (Crédito: Salwan Georges/The Washington Post)

Também em 3 de agosto, com o apoio da Casa Branca, o Centro de Controle de Doenças (CDC), prorrogou até outubro a moratória que proíbe o despejo de inquilinos com aluguel atrasado durante a pandemia da covid-19. O CDC havia estendido a moratória diversas vezes, apesar da decisão da Suprema Corte de que o órgão não tinha autoridade para tal ato. Desde então, diversos grupos de locatários e empresas imobiliárias entraram com processos na Justiça americana para tentar derrubar a lei, que consideram inconstitucional.

Política Externa

Ao longo da semana, o secretário de Estado, Antony Blinken, encontrou-se virtualmente com os ministros das Relações Exteriores dos países-membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), pedindo-lhes que tratem da crise derivada do golpe de Estado em Mianmar. Blinken acusou o governo da junta militar de estar tentando “ganhar tempo”, ao anunciar o retorno às eleições democráticas em agosto de 2023. A ASEAN anunciou o vice-ministro das Relações Exteriores do Brunei, Erywan Yusof, como enviado especial para o país em crise para supervisionar falas diplomáticas entre os militares e sua oposição, o envio de ajuda humanitária e o fim da violência. No dia 4, quarta-feira, a secretária de Estado adjunta, Wendy Sherman, encontrou-se com um representante do governo birmanês no exílio, o Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês). Ambos conversaram sobre a ajuda estadunidense aos esforços pró-democracia e ao combate à covid-19.

No dia 5, quinta-feira, o presidente Joe Biden divulgou um memorando, permitindo que visitantes oriundos de Hong Kong permaneçam em solo estadunidense por 18 meses. Essa ação é apresentada como uma concessão de “refúgio”, frente ao que apontam como uma onda de repressão a movimentos pró-democráticos no âmbito da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong. A lei criminaliza atos de “secessão, subversão, terrorismo e conspiração”. A China denunciou a medida de Washington, considerando que “ignora e distorce os fatos, interferindo grosseiramente em assuntos internos chineses”. A ação deve afetar cerca de 100.000 honcongueses.

Biden allows temporary 'safe haven' for Hong Kong residents amid Beijing crackdown

Manifestantes pró-democracia tomam as ruas de Hong Kong, em nov. 2019 (Crédito: Marcus Yam/Los Angeles Times)

Na sexta-feira, dia 6, o secretário Antony Blinken se encontrou com o ministro sul-coreano das Relações Exteriores, Chung Eui-yong, ocasião em que discutiram as relações com a Coreia do Norte. Ainda que ambos concordem com o objetivo de desnuclearização da Coreia do Norte, houve divergências quanto à abordagem, uma vez que os Estados Unidos insistem nesse ponto como condição prévia para a retomada do diálogo e para o abrandamento das sanções.

Relações Transatlânticas

No dia 2, o presidente do Comitê das Relações Exteriores do Senado americano, o senador Bob Menendez (D-NJ), e suas contrapartes de Estônia, República Checa, Irlanda, Letônia, Polônia, Ucrânia, Reino Unido e Lituânia emitiram uma declaração conjunta em oposição ao gasoduto Nord Stream 2. Na nota, lamentam o recente acordo entre Alemanha e EUA, que “aceitou” a conclusão do gasoduto. Frente à continuidade deste “projeto geopolítico”, os congressistas alegam ser necessário que a Alemanha se comprometa com a redução da “dependência do gás importado da Rússia”, garantindo a segurança nacional dos países da União Europeia (EU) e dos EUA, além de trabalhar para o avanço da energia sustentável na região e para a proteção do território ucraniano frente à “agressão brutal” russa.

Sociedade

O Departamento de Estado anunciou na última segunda (2) o lançamento de um programa de refúgio para afegãos que trabalharam para projetos financiados pelos Estados Unidos, para órgãos não governamentais e para meios de comunicação estadunidenses. O programa será destinado a afegãos que não se qualificam para o Visto de Imigração Especial (SIV), que cobre intérpretes e outros que trabalharam para o governo estadunidense. A ação visa a proteger afegãos que possam estar em risco por seus laços com os Estados Unidos, em meio ao avanço dos talibãs no território.

Também na segunda-feira (2), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças confirmou que o governo Biden renovou a política Title 42, utilizada para expulsar imigrantes e solicitantes de asilo com a justificativa de prevenir surtos de covid-19. A política implementada pelo então presidente Donald Trump em 2020 estava prevista para ser extinta nos últimos meses. Ainda assim, no dia 3, Biden se reuniu com líderes de comunidades latinas para discutir imigração, direitos eleitorais, seus planos econômicos e o aniversário do massacre de El Paso. Em seu discurso, Biden destaca, primeiramente, a importância da vacinação anticovid-19 e enaltece o plano de infraestrutura aprovado na semana anterior pelo Congresso. O presidente também expressou suas condolências às famílias das vítimas do massacre de El Paso, ocorrido em 2019. Na sequência, condenou os atos de terrorismo doméstico cometidos por adeptos da supremacia branca e garantiu que continuará pressionando o Congresso por uma reforma na legislação sobre armas, como a proibição da venda de armas de assalto. Também anunciou que seu governo está trabalhando, em um esforço inédito no país, em uma série de medidas para conter esse tipo de violência.

Uma nova geração de pastores negros está liderando os movimentos pelo direito de voto. No dia 2, alguns deles participaram de uma manifestação em Washington, D.C., para pressionar o Congresso a aprovar uma ampla legislação de direitos de voto que iria anular algumas das restrições eleitorais aprovadas. A participação de pastores negros no movimento pelo direito de voto remonta à década de 1960, em meio à luta pelos direitos civis, com destaque para o papel de Martin Luther King Jr. Também no dia 2, mais de 100 representantes democratas de diversos estados começaram a chegar a Washington para uma semana de atividades com o objetivo de fazer campanha pela aprovação da legislação do direito de voto.

Mike Parson (R-MO), governador do Missouri, perdoou o casal Mark McCloskey e Patricia McCloskey, que apontou armas para os manifestantes do movimento Black Lives Matter em junho do ano passado. Em um primeiro momento, eles foram multados, após se declararem culpados das acusações. Na terça-feira (3), porém, o gabinete do governador emitiu um comunicado à imprensa, confirmando o indulto, conforme prometido, depois que ambos receberam apoio dos conservadores.

No dia 5, o Departamento de Justiça anunciou que vai investigar o Departamento de Polícia de Phoenix para examinar se há discriminação contra minorias, uso de força excessiva, ou retaliação contra manifestantes pacíficos. A investigação também examinará como os agentes deste departamento agem com pessoas em situação de rua e pessoas com deficiência. Este será o terceiro inquérito do governo Biden sobre violações de direitos civis por parte de forças policiais.

 

Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

 

Assine nossa Newsletter e receba o conteúdo do OPEU por e-mail.

Siga o OPEU no InstagramTwitterFlipboardLinkedin e Facebook e acompanhe nossas postagens diárias.

Comente, compartilhe, envie sugestões, faça parte da nossa comunidade.

Realização:
Apoio:

Conheça o projeto OPEU

O OPEU é um portal de notícias e um banco de dados dedicado ao acompanhamento da política doméstica e internacional dos EUA.

Ler mais