Política Doméstica

100 dias de ‘verdades’, por Donald Trump 

Crédito: captura de tela de @realdonaldtrump na Truth Social

Dossiê “100 dias de Trump 2.0” 

Por Victor Dias Grinberg e Giulia Giometti Nicolosi de Oliveira* [Informe OPEU] [100 dias] [Trump 2.0 

De volta ao Salão Oval para a 47ª presidência dos Estados Unidos, Donald Trump também retomou seu projeto que mescla comunicação política e comunicação governamental com comunicação pessoal, agora em uma nova casa, a qual ele é parcialmente creditado como fundador e dono: a rede Truth Social. 

Com cerca de 6,3 milhões de usuários ativos, a rede social digital opera em um formato análogo ao X, de Elon Musk, e se tornou mais um dos lugares em que o protagonismo de uma retórica alinhada com o conservadorismo e com a ideologia de direita cria um ambiente propício para o presidente ventilar sua visão de mundo e, com isso, criar uma espécie de câmara de eco forçada para suas políticas públicas. 

Como cobertura para essas práticas, supõe-se então que a Truth Social atue como um canal em que Trump e seus aliados buscaram criar um ambiente controlado, no qual a comunicação institucional possa ser veiculada diretamente ao público, sem riscos de censura ou contestação editorial. A plataforma é apresentada como uma resposta à alegada “censura das Big Techs“, reforçando o discurso de Trump em favor da “liberdade de expressão”, ainda que ao seu lado sempre esteja a oligarquia sobre a qual Joe Biden alertou em seu último discurso. 

Fruído dessa liberdade, carece entender qual é a narrativa que ele gostaria de emplacar. Para isso, uma das formas de encarar essa efeméride em um governo que terá quase 1.400 dias pela frente, a plataforma digital se consolida como um canal estratégico para a disseminação de mensagens políticas, funcionando como um palco de sua comunicação direta com os seus apoiadores, sem a presença da imprensa como mediadora, já que Trump sempre deixou claro suas opiniões sobre a mídia americana.   

Para efeitos analíticos, entre 20 de janeiro – dia da posse – até 27 de abril (98 dias), foram feitas 1.521 publicações, excluídos recompartilhamentos sem comentários. Didaticamente, dividimos em assuntos que, a priori, demonstraram-se como prioritários: (1) saúde, (2) economia, (3) segurança, (4) imigração, (5) política externa, (6) política partidária e (7) outros. 

FIGURA 1 – Representação gráfica das postagens feitas na Truth Social de Donald Trump 

Fonte: Elaboração própria 

Observando alguma tendência fraca, destaca-se que essa volumetria não tem paralelismos óbvios com os contornos que esses assuntos tiveram na mídia tradicional ou nas demais mídias sociais. Há, no entanto, um forte indicativo da Agenda-setting à lá Maxwell que a Casa Branca gostaria de fortalecer. Ou seja, a despeito do que eventualmente seja, de fato, relevante para o eleitorado, os principais assuntos pautados na Truth do presidente, refletem aquilo que ele gostaria que fosse destaque. 

Por exemplo, um dos primeiros releases da nova administração exibe suas prioridades, no âmbito de cada pilar indicado: Make America Safe Again (Segurança e Imigração), Make America Affordable and Energy Dominant Again (Economia), Drain the Swamp (Política Partidária) e Bring Back American Values (Política Externa). 

A escolha destes assuntos expõe um olhar, ainda que superficial, dos principais pontos de articulação da agenda de Trump nesse período. Assim, quanto mais dificuldade Trump tem de impor sua visão em outras redes sociais, mais a Truth Social acaba sendo o local essencial para seus discursos, já que é um espaço pensado por ele e para ele 

Imigração, por exemplo. Esse é um dos temas do cerne de sua plataforma, com grande adesão por parte dos seus eleitores. Para essa fatia do eleitorado, a imigração reforça a plataforma de segurança, ao passo que não toca no americano médio, o law abiding Citizen. Conforme Trump começou a aplicar suas políticas migratórias de forma mais rígida, viu o efeito reverso daquilo que ele esperava, tendo que legitimar suas ações e mostrar quais eram seus objetivos. Surgem, portanto, maiores impasses na tentativa de implementar políticas e atingir suas metas.  

Agora, saúde. Um assunto que não é prioritário, cujas polêmicas não arranham a imagem de seu secretário, Robert F. Kennedy Jr, nem estão mobilizando grandes parcelas da sociedade. Consequentemente, passa ser uma pauta terciária ante a baixa ocorrência de protestos mais barulhentos e numerosos por parte da população. As raras exceções neste assunto são, claro, para criticar a postura dos democratas no que toca a qualquer mobilização contrária à sua visão de como a Secretaria de Saúde deve ser gerida. 

Por fim, a economia, tão bem ilustrada pela Figura 2, dirige-se a dois grandes pilares: (1) convencer os americanos de que está tudo bem; (2) explicar o que deseja atingir com uma política tarifária que remete os especialistas à Lei de Tarifas Smooth-Hawley 

FIGURA 2 – Postagem feita por Trump sobre “Tarifas Recíprocas” em 2 abr. 2025 

Fonte: Captura de tela de @realdonaldtrump

A única pergunta que se pode fazer é: está dando certo? 

O senso comum diz que não.  

Um espaço que estava sendo usado para testar políticas públicas, interagir com seu eleitorado e criar coesão ideológica, gradativamente, vem sendo permeado, mais e mais, por devaneios que estão minando a credibilidade conforme, no mundo offline, as coisas também não estejam se materializando como Trump deseja. 

A mais recente pesquisa do Pew Research Center indica que, diferentemente do seu primeiro mandato, nesse momento, já se consegue mapear uma significativa queda na aprovação, saindo de 40%, com uma redução de 7 pontos percentuais desde fevereiro. Essa queda é sentida especialmente entre os apoiadores menos entusiasmados de Trump nas eleições de 2024 e entre os que não votaram naquele ano, cujo apoio despencou de 44% para 31%. Entre grupos demográficos, a queda foi particularmente acentuada entre asiático-americanos (de 47% para 29%) e, de forma geral, adultos mais jovens mostram menos apoio que os mais velhos. 

Olhando acerca dos temas trazidos acima, entre as políticas específicas que geram desaprovação estão o aumento de tarifas de importação (59% de desaprovação geral) e os cortes nas agências federais (55% de desaprovação), ambos criticados majoritariamente por democratas e aceitos por grande parte dos republicanos. 

Trump ainda mantém relativo respaldo em temas de imigração (48% confiam), mas sua capacidade de lidar com a economia – antes seu ponto forte – caiu para 45%, seu nível mais baixo desde 2019. A percepção de que as políticas de Trump enfraquecem a posição internacional dos EUA também é alta: 49% dos americanos afirmam que o país está mais fraco internacionalmente em comparação à era Biden. Ainda, 51% dos entrevistados acreditam que ele está governando de forma excessiva via decretos executivos, percepção partilhada mesmo entre parte dos republicanos. 

Nesse sentido, a pesquisa mostra que há uma crescente desconfiança nas declarações de Trump: 48% dizem confiar menos no que ele fala em comparação a presidentes anteriores, especialmente entre democratas (82%). Embora a base republicana permaneça relativamente fiel, esses dados indicam um desgaste importante na confiança pública geral, potencialmente limitando a capacidade de Trump de ampliar seu apoio além de seus eleitores tradicionais. 

Entretanto, até esse apoio pode ter limite. Entre se intitular como rei em uma postagem de 19 de fevereiro de 2025 e postar uma imagem de si mesmo como papa (Figura 3) antes do Conclave, em 3 de maio de 2025, existe uma erosão, ainda que devagar, da avaliação de seu desempenho. 

Figura 3 – Reprodução da postagem com uma imagem de Donald Trump como papa, produzida por Inteligência Artificial 

Fonte: Captura de tela de @realdonaldtrump 

Esse contexto não passa despercebido dos agentes públicos, e uma mudança no perfil comunicacional tende a emergir. Consideremos Karoline Leavitt, secretária de Imprensa da Casa Branca, recorrentemente alvo de piadas na Internet por sua fala, trejeitos e defesa ávida das ações de Trump. Nota-se que, conforme suas imitadoras foram ganhando notoriedade – entre elas a comediante Lisandra Vazquez que replica as coletivas de imprensa diariamente no TikTok –, a postura de Karoline foi-se alterando, com a adoção de uma retórica mais atenuada. E isso tende a ser verdadeiro para outros membros do Gabinete e até o próprio Trump.

 

* Victor Dias Grinberg é coordenador de Service Learning, Imersão e Experiência do Aluno da FAAP. Professor nos cursos Relações Internacionais e Ciências Econômicas do Centro Universitário Armando Alvares Penteado. É Mestre em Comunicação na Contemporaneidade pela Faculdade Cásper Libero (FCL). Especialista em Mídia, Política e Sociedade pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), Graduado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FECON-FAAP). Contato: vdgrinberg@faap.br. 

Giulia Giometti Nicolosi de Oliveira é graduanda do 5º semestre em Relações Internacionais no Centro Universitário Armando Álvares Penteado (FAAP). Participa ativamente de grupos de estudo e atividades relacionada as simulações da ONU, como o Fórum FAAP. Tem interesse nas áreas de direito internacional e cyberpolitics. Contato: giulia_giometti@hotmail.com. 

** Revisão e edição finais: Tatiana TeixeiraRecebido em 28 abr. 2025. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU. 

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