Vitória em NJ e VA anima democratas para 2018

por Tatiana Teixeira

Os democratas Phil Murphy, de 60, e Ralph Northam, de 58, venceram a corrida eleitoral em seus respectivos estados, Nova Jersey (NJ) e Virgínia (VA), em 7 de novembro, trazendo alívio para um partido que ainda tenta – a duras penas – recuperar o controle do debate na cena política nacional. Além desses dois estados, os democratas mantiveram a prefeitura de Nova York, com Bill de Blasio (o que já era esperado), e a de Boston, com Marty Walsh, e conquistaram as de St. Petersburg, na Flórida, e de Manchester, em New Hamsphire; o Senado estadual em Washington; entre outras significativas vitórias legislativas e em cargos executivos em diversos condados.

Este ano, os democratas também registraram alguns feitos inéditos e dignos de nota em um momento de maior vocalização da extrema direita no país e de sua agenda anti-imigração, contra questões de gênero e contra outros temas socialmente mais progressistas. Saem das urnas, por exemplo, Danica Roem, a primeira deputada estadual transgênero do país, e Kathy Tran, a primeira legisladora de origem vietnamita – ambas na Virgínia –; Vi Lyles, primeira prefeita negra de Charlotte, na Carolina do Norte; Michelle De La Isla, primeira mãe solteira de origem latina a ser prefeita em Topeka, no Kansas; Wilmot Collins, uma refugiada da Libéria que será prefeita em Helena, no estado de Montana; e Jenny Durkan, primeira prefeita lésbica, na cidade de Seattle.

Virgínia consolida perfil democrata

Neuropediatra, veterano da Guerra do Golfo e de perfil político moderado, Ralph Northam é considerado uma estrela menor por seu Partido. Avaliação esta que deve mudar agora, depois de derrotar o republicano Ed Gillespie, um lobista do setor corporativo, com uma vantagem de quase 9%. Northam substitui o bastante popular Terry McAuliffe, reforçando, com isso, o traço democrata de um estado onde Trump já havia perdido para a rival Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016. Desde 2009, a Virgínia não escolhe um republicano para seus cargos eletivos. E, após apoiar candidatos democratas nas últimas três eleições à Presidência, parece se consolidar como um blue state. O próximo grande teste será na briga pela vaga do Senado, em 2018, quando Tim Kaine, que foi vice na chapa de Hillary à Casa Branca, buscará um segundo mandato.

Com uma campanha que contou na reta final com temas polêmicos do atual debate nacional, como imigração clandestina e defesa dos símbolos confederados, Gillespie teve como principal base de apoio os eleitores brancos das zonas rurais. Foi rejeitado, porém, especialmente entre os moradores da região metropolitana da Virgínia e dos subúrbios de mais alto poder aquisitivo e escolaridade. Além disso, observa-se a continuidade da tendência de imigrantes e mulheres votarem, cada vez mais, em políticos democratas nesse estado.

Os democratas também conseguiram o controle da Câmara dos Deputados local (chamada de House of Delegates na Virgínia). Para o colunista do site Breitbart Joel Pollak, a rejeição foi mais contra o establishment do que contra Trump. Já o representante novato Scott Taylor (R-VA) culpou o presidente e sua “retórica desagregadora” pela derrota e viu o pleito como “um referendo sobre seu governo”. Para o representante Charlie Dent (R-PA), os eleitores estão descontando nas urnas sua “raiva pelo presidente”. Essas análises ecoam na cúpula republicana, que vê o resultado das urnas como um “claro repúdio ao partido”.

Nova Jersey: fim melancólico de Christie

Também com uma margem considerável, o ex-executivo do banco Goldman Sachs Philip Murphy venceu Kim Guadagno e substituirá Chris Christie, que foi sendo esvaziado no partido desde o Bridgegate e desde a posse de Trump. Apesar de ter sido aliado de primeira hora do então candidato Trump, diferenças do passado com o cunhado do magnata nova-iorquino, Jared Kusher, foram relegando Christie ao ostracismo. O mote de campanha de Murphy, um generoso doador do Partido Democrata agraciado com o posto de embaixador na Alemanha durante o governo Barack Obama, foi se concentrar na rejeição a Trump e a Christie. Com esse resultado, Nova Jersey se torna o sétimo estado americano com democratas à frente do Executivo e com maioria legislativa.

Midterms em 2018

As disputas na Virgínia e em Nova Jersey foram acompanhadas com atenção pelos caciques democratas e republicanos em Washington, D.C. A dupla vitória aumenta a preocupação dos adversários, que veem a polarização dentro do GOP se acentuar e a crescente impopularidade de Donald Trump e de suas políticas resvalar nos correligionários, após 11 meses de governo. Não à toa, o presidente americano foi uma marcada ausência nessas duas campanhas estaduais especiais. Curiosamente, tanto Gillespie quanto Kim protagonizaram um estilo de campanha já cunhado de “trumpismo sem Trump”, adotando o jeito e a agenda do presidente, mas sem o presidente. Essa hibridez parece não ter ajudado muito.

Para as eleições de meio de mandato do ano que vem (midterm elections), talvez o aprendizado mais imediato para os republicanos seja sobre a necessidade de rever discursos radicais nos chamados swing states e entre a faixa do eleitorado com melhor situação socioeconômica. No que diz respeito a ambos os partidos, o desafio na era do trumpismo continua sendo entender o eleitor e redefinir, ou tornar mais convincentes, a identidade e a plataforma das respectivas legendas – sobretudo, diante da intensificação dos rachas intrapartidários. De qualquer modo, é bom lembrar que, nos Estados Unidos, mais do que a fidelidade à sigla predomina a grassroots politics, com os congressistas priorizando interesses e demandas dos eleitores de seu próprio distrito. Esse equilíbrio entre as políticas local e nacional deve ser mais bem equalizado.

Ao todo, em 6 de novembro de 2018, serão disputadas 468 vagas no Congresso dos EUA: 33 no Senado e 435 na Câmara. Hoje, os republicanos contam com estreita maioria em ambas as Casas: 52-48, no Senado; e 239-194, na Câmara. O pleito do ano que vem é de extrema importância. Primeiro, porque já se começam a delinear as apostas para 2020. Segundo, porque recuperar o controle em uma, ou nas duas Casas, pode fazer toda a diferença para o sucesso (ou insucesso) do governo Trump, que poderá ter ainda mais dificuldade para conseguir aprovar suas medidas no Congresso. Um fracasso do Executivo republicano seria um dos melhores cabos eleitorais dos democratas para a próxima corrida presidencial.

 

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